A segunda semana de setembro trouxe grandes novidades na campanha de vacinação contra a covid-19 no Brasil: idosos com 70 anos ou mais começam a receber a terceira dose, imunossuprimidos estão aptos para o reforço, adolescentes sem comorbidades ganham a primeira aplicação e certos municípios reduzem o intervalo entre as doses da Pfizer, como no caso de Porto Alegre. Veja perguntas e respostas sobre as mudanças com o avanço da vacinação pelo país:
Quem pode tomar a terceira dose?
Todo idoso acima dos 70 anos que recebeu a segunda dose há mais de seis meses e imunossuprimido que recebeu segunda dose há pelo menos 28 dias, independentemente do imunizante usado - seja CoronaVac, AstraZeneca, Pfizer ou Janssen. Para isso, é preciso olhar para a data da carteira de vacinação, uma vez que, a cada dia que passa, potencialmente novas pessoas estão aptas. No Rio Grande do Sul, a terceira dose já vinha sendo aplicada em idosos com 60 anos ou mais que vivem em asilos.
Quem são os imunossuprimidos?
Pessoas com problemas no sistema imunológico por uma doença específica ou porque usam remédio contra alguma doença e cujo efeito colateral é reduzir as defesas do organismo. No Rio Grande do Sul, o grupo representa cerca de 49 mil pessoas, conforme Tani Ranieri, diretora do Centro Estadual de Vigilância em Saúde.
Segundo o Ministério da Saúde, entram no grupo:
- Pessoas que realizam quimioterapia para câncer.
- Transplantados de órgão sólido ou de células tronco hematopoiéticas (TCTH) em uso de drogas imunossupressoras.
- Pessoas vivendo com HIV/Aids com CD4 <200 céls/mm3.
- Uso de corticoides em doses =20 mg/dia de prednisona, ou equivalente, por =14 dias.
- Uso de algumas drogas modificadoras da resposta imune.
- Pacientes em hemodiálise.
- Pacientes com doenças imunomediadas inflamatórias crônicas (reumatológicas, autoinflamatórias, doenças intestinais inflamatórias).
A vacinação de imunossuprimidos está liberada em Porto Alegre?
Imunossuprimidos podem receber a dose de reforço a partir desta quinta-feira (16).
Qual vacina será aplicada na terceira dose?
O Ministério da Saúde orienta que a terceira dose seja com Pfizer. Caso não haja no estoque, é possível aplicar a AstraZeneca. Em São Paulo, o governo decidiu que poderá ser usada a terceira dose da CoronaVac, ao contrário do estabelecido pelo governo federal.
Quais os critérios para as cidades aplicarem a terceira dose na população?
Segundo Tani Ranieri, da Secretaria de Estado da Saúde do Rio Grande do Sul (SES-RS), o Estado já enviou doses o suficiente para todos os municípios começarem a aplicação de idosos com 70 anos ou mais. Os municípios, portanto, estão aptos a começarem em toda a faixa etária, como faz Porto Alegre.
Nem todos os municípios respeitam essa diretriz — em muitos casos, sob a justificativa de evitar aglomerações. Em Santa Maria e Alvorada, por exemplo, agora está liberada apenas a vacinação para pessoas com 85 anos ou mais.
É seguro tomar terceira dose de Pfizer se antes tomei CoronaVac? E se tomei AstraZeneca?
Especialistas na área de vacinação e infectologia entendem que sim. Há diversos estudos apontando que a medida, chamada de intercambialidade vacinal ou vacinação cruzada, oferece grande proteção com terceira dose de Pfizer e AstraZeneca. Não há estudos sobre o uso cruzado entre CoronaVac e Pfizer ou CoronaVac e AstraZeneca, mas analistas afirmam que, pela lógica de funcionamento das vacinas, a opção é segura e eficaz.
O médico Alessandro Pasqualotto, chefe da Infectologia do Hospital Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre e professor na Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), esclarece que, com base no funcionamento do sistema imune, não há por que pensar que a combinação faça mal.
– A terceira dose confere proteção adicional às pessoas mais vulneráveis para não adoecerem de forma grave. Considerando a segurança da vacina da Pfizer e da CoronaVac, não há por que supor que é arriscado tomar outra dose. A aplicação cruzada estimula o sistema imune de formas variadas para o organismo se proteger melhor – diz Pasqualotto.
O médico Alexandre Zavascki, infectologista no Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) e chefe da Infectologia do Hospital Moinhos de Vento, explica que o sistema imunológico não vai “entrar em pane” com o uso de doses cruzadas.
– Não temos é ensaio clinico mostrando que a eficácia da terceira dose trocada é superior. Mas sabemos que isso eleva a quantidade de anticorpos neutralizantes e sabemos que há correlação entre a quantidade de anticorpos neutralizantes e o efeito protetor da vacina. Esse é o raciocínio – afirma o infectologista.
O médico Fabiano Ramos, chefe da Infectologia do Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), esclarece que a CoronaVac é uma vacina com tecnologia extremamente segura e que estudos e vida real mostram que Pfizer e AstraZeneca também não oferecem riscos.
– A reação esperada é para o uso da vacina específica, não da intercambialidade – resume.
Como será o calendário em Porto Alegre?
Desde esta quarta-feira (15), todos os idosos com 70 anos ou mais que tomaram a segunda dose há seis meses (em 11 de março) podem fazer a terceira dose. Imunossuprimidos que tomaram a segunda dose há 28 dias podem buscar os pontos de vacinação a partir de quinta-feira (16).
A partir de quinta-feira (16), a vacinação também está liberada para adolescentes sem comorbidades com 15 anos ou mais. Segundo o vice-prefeito da capital, Ricardo Gomes (MDB), a faixa etária poderá cair para adolescentes de 12 anos na sexta-feira (17).
Para dialogar com sommeliers de vacinas que ainda não se vacinaram, o vice-prefeito ainda acrescentou que a cidade tem estoque para aplicar a primeira dose da Pfizer:
– Todas as vacinas funcionam, todas são boas. Mas se eventualmente alguém não se vacinou ainda por ter identificado que havia imunizante de outras farmacêuticas, agora comunicamos que temos estoque de vacina da Pfizer. Queremos ampliar ao máximo a vacinação – disse Ricardo Gomes.
Haverá aplicação de terceira dose em casa para idosos com saúde debilitada na Capital? Quando?
Sim, será possível agendar a terceira dose de idosos acamados, mas é preciso aguardar as equipes da prefeitura terminarem a aplicação em idosos que vivem em asilos, o que deve ocorrer na semana que vem, segundo a Secretaria Municipal da Saúde. Detalhes serão divulgados pela prefeitura nos próximos dias.
Quais deverão ser os próximos grupos prioritários?
Não há, ainda, comunicação oficial do governo federal sobre quais serão os próximos grupos prioritários. O ministro da saúde, Marcelo Queiroga, encomendou pesquisa para averiguar se há aumento de hospitalizações e mortes de profissionais da saúde a fim de avaliar a possibilidade de terceira dose no grupo. Em outra frente, o Estado de São Paulo decidiu, por conta própria, aplicar a terceira dose em idosos de 60 a 69 anos.
O governo do Rio Grande do Sul segue instruções do Ministério da Saúde para avançar em outros grupos, mas tem a expectativa de incluir, a seguir, idosos entre 60 e 69 anos, cogita Tani Ranieri, do Centro Estadual de Vigilância em Saúde.
— A gente já iniciou a vacinação de 60 anos em idosos ILPIs (Instituições de Longa Permanência, ou asilos) sem estar pactuado pelo Ministério da Saúde porque havia surtos. Acredito que mais adiante o Ministério incluirá idosos com 60 anos ou mais porque a partir dessa idade temos evidência de maior mortalidade. Já profissionais da saúde não são, com os dados do momento, grupo com maior risco. Se forem, eu diria que precisam ser os da linha de frente — diz Tani, reforçando que qualquer avanço depende de envio de novas doses pelo Ministério da Saúde.
O Conselho de Secretários Municipais do Rio Grande do Sul (Cosems-RS) afirma que é favorável à inclusão de profissionais da saúde, mas que aguarda autorização do Ministério da Saúde, explicou o presidente da entidade e secretário da Saúde de Canoas, Maicon Lemos.
Afinal, qual o intervalo para a segunda dose da AstraZeneca e da Pfizer?
O Ministério da Saúde anunciou na noite desta quarta-feira (15) que mantém a recomendação do intervalo de 12 semanas para aplicação da segunda dose da vacina AstraZeneca, abandonando a possibilidade de oito semanas, anunciada pelo ministro Marcelo Queiroga.
Atualmente, vigora no Rio Grande do Sul a orientação para que o prazo entre as aplicações de ambos os imunizantes seja de 10 a 12 semanas, conforme resolução, datada de 16 de julho, da Comissão Intergestores Bipartite (CIB), que reúne a Secretaria Estadual da Saúde (SES) e secretarias municipais.
Em Porto Alegre, o intervalo da AstraZeneca se mantém em 10 semanas, mas a prefeitura liberou por conta própria, na terça-feira (14), a redução do intervalo apenas da Pfizer porque possui doses em estoque. O intervalo passa a ser de oito semanas. A Capital gaúcha aguarda envio de novas remessas de AstraZeneca para tomar a mesma decisão.
Haverá vacinas suficientes com todas as mudanças?
O Ministério da Saúde afirma que sim, tendo em vista o anúncio de repasse de doses dos laboratórios farmacêuticos, mas gestores locais afirmam que ainda não.
Com as doses recebidas até agora, é possível aplicar a terceira dose em idosos de até 70 anos que receberam duas doses ou dose única da Janssen até seis meses atrás, além de imunossuprimidos que completaram o esquema até 28 dias atrás, esclarece o presidente do Conselho dos Secretários Municipais do Rio Grande do Sul (Cosems-RS).
O estoque não permite reduzir o intervalo da Pfizer e da AstraZenca, o que explica a medida não ter sido impelementada no Estado ainda, afirma Tani Ranieri, do Centro Estadual de Vigilância em Saúde. A alteração ocorrerá quando o governo gaúcho receber novas remessas do Ministério da Saúde.
A Secretaria Municipal da Saúde da Capital informa, por meio de sua assessoria de imprensa, que Porto Alegre apenas anuncia o avanço na vacinação quando há doses em estoque - uma forma de evitar problemas por atraso no repasse de laboratórios. Portanto, as medidas anunciadas para a cidade, como a vacinação de adolescentes, a terceira dose em idosos e a redução de intervalo da Pfizer foram tomadas com base no estoque.