De difícil diagnóstico, o câncer de peritônio, ou carcinomatose peritoneal, vitimou nesta quarta-feira (8) o produtor musical Dudu Braga, 52 anos, filho do cantor Roberto Carlos. Ele enfrentava o tumor há um ano e, antes disso, lutou duas vezes contra a doença também no pâncreas.
O câncer de peritônio, que é uma fina membrana que reveste todos os órgãos abdominais, como o estômago, o fígado e os intestinos, pode se manifestar de duas formas. Ou pode nascer no próprio peritônio, ou, o que é mais comum, pode se originar em outras partes do corpo, como intestino, estômago, ovário e pâncreas, e chegar a essa membrana já em um quadro mais grave, com metástase.
Ao que tudo indica, o caso de Dudu Braga é o segundo. Em 2019, o produtor musical enfrentou um tumor no pâncreas, em março, e um nódulo na mesma região, em outubro. Em setembro de 2020, o câncer voltou a aparecer, agora no peritônio.
— Quando o câncer vai para o peritônio, ele passa a atrapalhar os órgãos que são revestidos por ele. Como ele é uma camada, não permite que esses órgãos funcionem — relata o oncologista Antônio Dal Pizzol Jr., da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre.
Além de dificultar o funcionamento dos órgãos revestidos por ele, o peritônio com câncer também produz uma quantidade anormal de líquido, que se acumula e empurra esses órgãos, segundo o médico. Apesar de trazer uma série de problemas para o organismo do paciente, este tumor é de difícil diagnóstico, pois não tem sintomas característicos – se manifesta por sintomas gastrointestinais, como dor abdominal ou sensação de pressão ao urinar, que, muitas vezes, não parecem, para o paciente, sinais de algo mais grave.
Não há estimativa de incidência do câncer de peritônio, já que, muitas vezes, a notificação é feita com as informações do tumor inicial, em outro órgão. Até pouco tempo atrás, conforme Dal Pizzol, havia poucas possibilidades de tratamento para o câncer de peritônio, o que fazia com que muitas pessoas considerassem a doença como incurável. O quadro, porém, mudou – na Santa Casa, por exemplo, há um programa específico para doenças peritoniais, que visa a integração entre especialidades e o desenvolvimento de novas terapias, para qualificar e agilizar o diagnóstico.
— Ainda é uma situação grave e delicada, mas hoje existem muitos avanços nessa área e o prognóstico de muitos desses pacientes vem sendo radicalmente modificado. O manejo multidisciplinar é a chave: é um tratamento que não é feito por um profissional isoladamente — resume o profissional.
Normalmente, o tratamento envolve o uso de medicamentos e a realização de cirurgia para remover parte ou todo o peritônio. Uma novidade tem sido a aplicação de drogas, como a quimioterapia, diretamente no abdômen, o que, de acordo com o oncologista, tem dado bons resultados.
Para evitar que o câncer de peritônio seja diagnosticado já em um quadro avançado, Dal Pizzon alerta que os pacientes que tiveram câncer devem seguir monitorando a situação, com consultas e exames de rotina. A frequência desse acompanhamento varia – caso a pessoa não tenha clareza sobre qual a regularidade com que deve procurar atendimento, é importante que pergunte para o seu médico.