Uma caminhada realizada na manhã desta sexta-feira (24) pelas ruas da Restinga, no extremo-sul de Porto Alegre, busca a população que não completou o esquema de imunização contra o coronavírus. A ação foi organizada pela Secretaria Municipal da Saúde (SMS) e por voluntários do Centro da Juventude Restinga, entidade ligada ao governo do Estado e que oferece cursos de preparação ao mercado de trabalho.
Divulgado em redes sociais e no boca a boca, o ato começou com uma concentração em frente à instituição de ensino, às 10h. O destino era a Unidade de Saúde Álvaro Difini, cerca de quatro quarteirões à frente.
— Eu soube que iriam vacinar e trouxe ele pra tomar a segunda dose — disse Édson Vargas, 52 anos, ao lado do filho, Udson, 26.
A dupla se uniu a outros estudantes e a agentes de saúde da região. No caminho, pedestres, trabalhadores em paradas de ônibus e atendentes do comércio foram abordados, e o grupo cresceu. Entre as perguntas, o motivo pelo qual muitos ainda não haviam se vacinado.
— Tomei uma só, falta a segunda — afirmou o vendedor Eleazar Campos, 40 anos.
A esposa dele, Giane Santos da Rosa, 44, preencheu a carteirinha quando o Estado incluiu os professores nos grupos prioritários. A docente elogiou a ação desta sexta-feira.
— Isso é maravilhoso, tem que conscientizar esse povo — disse.
Máscaras também foram entregues pelos servidores, já que a falta do acessório é facilmente identificada por quem circula pela Avenida Economista Nilo Wulff, uma das mais movimentadas da região. Parte dos pedestres carrega o item de proteção pendurado sob o queixo ou nas mãos, usando-o apenas para entrar em algum estabelecimento.
Ranking
Na Restinga vivem 9% dos porto-alegrenses aptos à imunização mas que não buscaram os postos nem para a primeira aplicação. No total, são 57 mil moradores da Capital sem qualquer dose de vacina contra a covid, segundo levantamento divulgado na última semana pela prefeitura.
A maioria dos não vacinados alegou falta de tempo e desinformação. Houve também quem tenha demonstrado influência de outros fatores para a decisão:
— O presidente (Jair Bolsonaro) disse que não é obrigatório — alertou uma comerciante, contrária à vacinação mesmo tendo perdido um familiar para a doença.
Para a gerente distrital de saúde da Restinga e do Extremo-Sul, Rosana Meyer Neibert, fatores sociais contam para a falta de consciência dessa parcela da população.
— Lutamos contra isso: as notícias falsas e a desinformação. Mas tem também aquele trabalhador que sai de casa às 7h, pega ônibus lotado e volta só à noite. Por isso temos sempre algum ponto de vacinação à noite ou aos finais de semana — argumentou.
O exemplo contrário a quem recusa a vacina veio de uma dupla de adolescentes: os irmãos Thierry Emanuel Calleja, 12 anos, e Pâmela Cabral, 13, que tomaram a primeira dose nesta sexta.
— Mas ainda preciso continuar me cuidando — reforçou o garoto, quando perguntado se agora poderia rever os amigos.
Próximo dos jovens, no corredor de um supermercado do bairro, a pensionista Raquel Nascimento de Oliveira, 71 anos, se emocionou.
— Eu perdi minha filha mais nova, minha nenê, para o coronavírus, em março desse ano. Tinha 40 anos e a vacina ainda não tinha chegado para ela. Demorou muito. Por isso eu peço, vacinem, vacinem, vacinem — reiterou a idosa, já protegida com as três doses a que tem direito.