Infectado pelo coronavírus, o ator Tarcísio Meira, que já havia recebido as duas doses da vacina contra a covid-19, morreu em decorrência da doença. O óbito do ator de 85 anos, ocorrido nesta quinta-feira (12), reacendeu o debate sobre a existência de situações em que o vírus é capaz de vitimar mesmo indivíduos que completaram seu esquema vacinal. A reportagem conversou com Fabiano Ramos, chefe do Serviço de Infectologia do Hospital São Lucas, e com Paulo Gewehr Filho, infectologista do Hospital Moinhos de Vento, a respeito das variáveis que podem fazer com que uma pessoa imunizada morra devido ao vírus e da importância da vacinação da população.
Depois que são aplicadas, as vacinas induzem a produção de anticorpos ou a imunidade celular. No entanto, essa indução dependerá muito da capacidade que o indivíduo que está recebendo o imunizante tem de desenvolver imunidade. Uso de medicações imunossupressoras, presença de doenças associadas e idade avançada — já que a partir dos 60 anos o sistema imunológico entra em um processo natural de declínio ao longo do tempo — são alguns dos elementos que dificultam o processo de imunização. Ao analisar as mortes de pessoas que receberam imunizante contra a covid-19, é necessário levar em conta características individuais.
— Nem todas as pessoas vacinadas vão desenvolver a proteção, e isso está associado a vários fatores, como idade, doenças, problemas no funcionamento do sistema imunológico, assim como em pacientes que fazem quimioterapia, radioterapia, usando medicações que baixam o sistema de defesa, e condições autoimunes. Essas situações todas podem diminuir a eficácia das vacinas, fazendo com que a pessoa não fique protegida contra a doença — afirma Grewer.
Assim como Tarcísio, sua esposa Glória Menezes, 86 anos, também havia sido vacinada no início de 2021. Diferentemente do marido, após contrair o vírus, Glória desenvolveu uma forma menos grave da doença. De acordo com boletim divulgado pelo Hospital Albert Einstein na tarde desta quinta-feira, a atriz segue internada, mas está em recuperação e retirada progressiva do oxigênio.
Outro ponto que explica a ocorrência de óbitos mesmo após as aplicação das doses necessárias contra o coronavírus é o fato de que, embora seguras, eficazes e essenciais para o controle da pandemia, nenhuma vacina disponível até o momento oferece 100% de proteção contra a evolução da covid-19 para a sua forma mais grave. Há um pequeno percentual de pessoas que, mesmo com a vacinação completa, poderá adoecer e morrer, principalmente quando fatores mencionados anteriormente — idade, comorbidades etc. — estiverem associados ao quadro da doença viral.
— Sabemos que a proteção contra o desenvolvimento de doença grave vai ser, dependendo da vacina, em torno de 80% a 90%. Logo, temos que lembrar que pelo menos cerca de 10% das pessoas vacinadas, se adquirirem o vírus, poderão evoluir para um caso mais grave e vir a falecer. É natural que tenhamos mortes, estamos numa pandemia que ainda não está controlada — explica Fabiano Ramos.
Os especialistas explicam ainda que a gravidade da doença depende também da quantidade de vírus que é transferida para o indivíduo. Estudos preliminares têm demonstrado que a variante Delta, detectada originalmente na Índia, possui uma carga viral muito mais alta do que outras cepas do coronavírus, o que pode culminar em casos mais graves, especialmente entre pessoas não vacinadas ou que estão com o esquema vacinal incompleto.
— O que temos visto na Delta é que é uma variante com capacidade de disseminação maior entre as pessoas e que leva uma quantidade de vírus maior. Isso pode diminuir a proteção oferecida pela vacina e influenciar na gravidade da doença que a pessoa vai ter, ainda mais quando se trata de pessoas idosas e com doenças crônicas — afirma Ramos.
Diante do cenário de aumento de casos relacionados à variante Delta no país e no Rio Grande do Sul, a recomendação é de que cuidados básicos, como o uso de máscara, álcool gel e a prática do distanciamento social, adotados desde o ano passado, não sejam deixados de lado.
— Especialmente neste momento, mesmo as pessoas vacinadas com duas doses têm que manter a proteção individual, dar preferência a atividades ao ar livre, evitar aglomerações. A Delta é a variante mais transmissível de todas, portanto, relaxar e confiar somente na vacina é um passo muito arriscado — conclui Paulo Grewer.