Na tarde desta terça-feira (13), entidades médicas e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) se manifestaram contrariamente à redução do intervalo entre a primeira e a segunda dose de vacinas contra a covid-19. Estados, como o Rio Grande do Sul, têm adotado essa medida como forma de combate mais efetivo à variante Delta, contra a qual somente a primeira dose não seria suficiente para proteger as pessoas, conforme apontam estudos preliminares.
Em nota técnica, a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) e a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) manifestaram posição contrária à medida, que envolve as vacinas da Pfizer e de Oxford/AstraZeneca. O documento defende que, "em um cenário de estoque limitado de doses (como é o caso do Brasil), ao estender o intervalo, é possível acelerar a vacinação e, assim, alcançar mais rapidamente uma proporção maior da população com pelo menos uma dose, antecipando, desta forma, a proteção de um maior número de pessoas". As entidades sustentam ainda que o número de mortes e de hospitalizações que serão evitadas caso mais pessoas recebam a primeira dose "supera substancialmente os eventuais prejuízos acarretados pelo prazo estendido".
Um dos argumentos defendidos pela publicação é o de que, de maneira geral, intervalos maiores entre doses de vacinas oferecem respostas imunes mais robustas após a segunda dose, o que poderia se traduzir em respostas protetoras mais duradouras. Um exemplo seria o resultado observado recentemente pela Universidade de Birmingham, na Inglaterra: estudo demonstrou que o intervalo de 12 semanas entre as doses da Pfizer incrementou significativamente a resposta imune em idosos: sua concentração de anticorpos neutralizadores da covid-19 foi 3,5 vezes maior do que a de vacinados com a segunda dose após três semanas de intervalo.
Uma pesquisa no Canadá também corrobora com a tese apresentada pelas sociedades: naquele país, após a aplicação de apenas uma dose, a efetividade observada contra hospitalização ou morte, para a variante Delta, é de 88% para a AstraZeneca e 78% para a Pfizer. São resultados que demonstrariam, segundo o parecer, que a proteção induzida pelas vacinas é alta contra desfechos graves de doença já na primeira dose.
A conclusão, com base na análise feita pelos departamentos científicos de Imunizações e Infectologia da SBIm e da SBP, é de que, para o atual momento epidemiológico do país e considerando a quantidade de doses disponíveis, é correta a estratégia de manter o intervalo de 12 semanas entre as duas aplicações de Pfizer e Oxford/AstraZeneca, que permite reduzir a mortalidade da covid-19. Mas ressaltam que, assim que toda a população adulta for contemplada com pelo menos uma dose de imunizante, o intervalo poderá ser reduzido, dentro de um cenário de menor transmissão comunitária.
A Fiocruz publicou, também nesta terça-feira, um esclarecimento a respeito do intervalo entre doses da AstraZeneca, no qual acompanha o parecer defendido por SBIm e SBP: "Até o momento, a vacina produzida pela Fiocruz tem se demonstrado efetiva na proteção contra as variantes em circulação no país já com a primeira dose. Adicionalmente, em relação à variante Delta, uma pesquisa da agência de saúde do governo britânico, publicada em junho, aponta que a vacina da AstraZeneca registrou 71% de efetividade após a primeira dose e 92% após a segunda para hospitalizações e casos graves".
Vacinação no RS
De acordo com a bula da vacina de Oxford/AstraZeneca, a indicação é de que a segunda dose seja administrada em um período entre quatro e 12 semanas após a primeira aplicação. No caso da Pfizer, a bula recomenda 21 dias de espaço entre doses, porém, o Ministério da Saúde adotou, em 3 de maio, o prazo de 12 semanas.
Um estudo feito do Reino Unido mostrou que a resposta dos anticorpos foi maior dentro desse prazo. Na última segunda-feira (12), a Secretaria Estadual da Saúde (SES) do RS anunciou que adotaria o prazo de 10 semanas para ambos os imunizantes, já que estudos científicos preliminares sugerem que a proteção oferecida com apenas uma dose pode ser insuficiente contra a variante Delta.