A proliferação de variantes do coronavírus, como a cepa de origem peruana identificada pela primeira vez nesta semana no Rio Grande do Sul, aumenta a importância de se completar o esquema vacinal para barrar a covid-19.
Especialistas demonstram preocupação com o andamento das segundas doses no Estado devido a relatos de atrasos e reforçam ser fundamental garantir a máxima produção de anticorpos. Os gaúchos costumam liderar o ranking nacional de cobertura vacinal completa, com 14,5% da população imunizada até esta quarta-feira (16), o que corresponde a mais de 1,6 milhão de aplicações. Mas a Secretaria Estadual da Saúde (SES) identificava até a véspera outras 242 mil em atraso ou ainda não inseridas no sistema informatizado de monitoramento — a cifra pode ser insuflada pela demora na notificação por parte das prefeituras. Uma nova estimativa, mais atualizada, deverá ser divulgada nesta quinta-feira (17).
Nesta quarta-feira (16), foi divulgada a confirmação do primeiro caso da variante peruana C37 (veja o que já se sabe sobre essa cepa) no Estado — um caminhoneiro de Itaqui que morreu no Hospital de Clínicas da Capital, ainda que não se possa atribuir o óbito à ação da cepa. Há outras ameaças próximas, como as variantes Alfa (de origem britânica) e Delta (indiana), capazes de reduzir a eficácia das vacinas e já observadas no Brasil.
— A segunda dose sempre foi importante, mas agora, no cenário das variantes, se tornou ainda mais relevante. Há estudos demonstrando que a eficácia da primeira dose é mais reduzida ainda contra as variantes do que quando essas vacinas foram testadas contra as linhagens antigas — observa o virologista e professor da Universidade Feevale Fernando Spilki.
Enquanto um estudo realizado nos Estados Unidos e divulgado em março apontou 79% de eficácia geral do imunizante de Oxford/AstraZeneca após a segunda injeção, por exemplo, esse percentual de proteção caiu para 64% no caso específico de combate à cepa indiana.
Ou seja, se apenas uma dose dos imunizantes já não garantia a proteção desejada contra versões prévias do vírus, a constante chegada de novas mutações diminui ainda mais o efeito da aplicação única. Para se alcançar a imunidade coletiva, que freia a transmissão do vírus e facilita a retomada de uma maior normalidade, é preciso alcançar uma cobertura ao redor de 70% da população com esquema vacinal completo. Pode ser necessária uma proporção ainda maior, dependendo de fatores como o nível de circulação do vírus e a eficácia dos imunizantes em uso.
— Em que pese estarmos ponteando o ranking nacional de vacinados, o calendário determinado pela disponibilidade de vacinas ainda está lento. Outro desafio é fazer as pessoas tomarem a segunda dose. Se não conseguirmos atingir o patamar da imunidade coletiva, não vamos ver o efeito esperado da vacinação — observa o epidemiologista do Hospital de Clínicas Ricardo Kuchenbecker.
Com base nos dados disponíveis até o final da tarde de terça-feira (15), a SES identificava 197,4 mil doses da CoronaVac, 44,9 mil da Oxford/AstraZeneca e nove da Pfizer em atraso ou ainda não notificadas. O Conselho das Secretarias Municipais da Saúde (Cosems/RS), porém, argumenta que parte dessa cifra se deve à demora para inserir os registros de aplicações no sistema informatizado.
Na segunda-feira (14), o Cosems estimou que a defasagem real, no caso da CoronaVac, seria de 92,4 mil. A SES informou, na tarde de quarta, que o Ministério da Saúde prometeu enviar mais 113 mil doses da CoronaVac em data a ser definida.
— De maneira geral, avaliamos que a adesão à segunda dose está sendo satisfatória. Ainda assim, estamos reforçando com cada unidade de saúde para que orientem as pessoas a fazerem a segunda dose. Mesmo que tenha passado do dia previsto, devem fazer o reforço — afirma o presidente do Cosems/RS, Maicon Lemos.