Não será possível conduzir uma análise mais detalhada das amostras coletadas para testes da covid-19 pelos pais e mais um contactante do caminhoneiro infectado com a variante C37 do coronavírus que morreu na quarta-feira (16), em Porto Alegre.
Jairo Dias Piazer Junior, 23 anos, morador de Itaqui, na Fronteira Oeste, estava internado no Centro de Tratamento Intensivo (CTI) do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, para onde foi transferido após a piora do quadro. O paciente apresentava comorbidades, e não se pode atribuir o óbito à variante. Ele não havia se vacinado contra a covid-19. Trata-se do primeiro caso de C37 registrado oficialmente no Rio Grande do Sul.
Depois de Jairo ter tido sintomas da doença em uma viagem que passou pela Argentina, os pais dele e essa terceira pessoa também receberam diagnóstico positivo. Os testes realizados por eles foram de antígeno, que pode ser feito rapidamente em farmácias. Há coleta de secreção nesse tipo de exame, mas o material é logo descartado.
Sem essas amostras, não é possível realizar o sequenciamento genômico para descobrir se o vírus que infectou o trio também é a variante C37 ou andina, que foi identificada pela primeira vez no Peru, em agosto do ano passado.
O Laboratório Central do Estado (Lacen-RS) deve intensificar, a partir desta quinta-feira (17), a avaliação mais detalhada de amostras coletadas para testes de PCR de moradores de Itaqui e de cidades vizinhas para tentar encontrar outros possíveis casos da nova cepa.
A prefeitura de Itaqui informa que somente os três estiveram na presença de Jairo após o retorno para casa — todos já sem sintomas e considerados recuperados. No percurso até o destino final, ninguém foi encontrado, apesar das tentativas, segundo Eduardo Kulmann, secretário municipal de Saúde.
— Como ele era caminhoneiro, fica difícil saber em quais locais parou durante o trajeto.
Kulmann afirma que não haverá mudança significativa nas medidas preventivas em vigor na cidade devido ao episódio:
— Não existe diferença nos protocolos de busca referente a essa variante específica ou a qualquer variante já conhecida. Aumentamos a fiscalização, atuando na redução das aglomerações, e intensificamos a divulgação à comunidade sobre os sintomas relacionados. As equipes de fiscalização também fazem a busca ativa dos pacientes positivos para coronavírus para evitar que descumpram as medidas obrigatórias de isolamento.
Recentemente, a Organização Mundial da Saúde (OMS) renomeou as variantes do sars-cov-2, utilizando o nome das letras no alfabeto grego. A C37 está sendo chamada de Lambda e passou a ser uma variante de interesse, não mais em monitoramento, o que significa que a entidade está prestando mais atenção na disseminação dessa cepa específica.
Pesquisadores e autoridades sanitárias ainda não sabem se a C37 ou Lambda pode provocar piora clínica dos doentes. Quanto à velocidade de disseminação do vírus, também há dúvidas. É preciso aguardar o que acontecerá ao longo das próximas semanas, considerando-se a variante que atualmente domina quase por completo o Estado, a P1, rebatizada como Gamma, descoberta pela primeira vez em Manaus (AM). Em locais onde a P1 era dominante, como a Argentina, ressalta o virologista Fernando Spilki, a C37 conseguiu avançar e se tornar responsável por até 40% do total de infecções.
Richard Steiner Salvato, especialista em Saúde do Centro Estadual de Vigilância em Saúde (Cevs) e integrante da Vigilância Genômica da instituição, explica:
— Não há nenhuma evidência que suporte atribuir à C37 um quadro mais grave da doença. Ela passou a ser considerada uma variante de interesse por uma possível maior transmissibilidade causada pelas mutações que carrega. Caso sejam identificadas evidências científicas de maior transmissibilidade ou maior gravidade da doença, aí, sim, ela passa a ser denominada variante de preocupação.