Enquanto divulgava os dados da mais recente rodada da Epicovid, na semana passada, Pedro Hallall, o coordenador do estudo epidemiológico que analisa a prevalência do coronavírus no Estado, afirmou que uma nova fase do levantamento dependia de financiamento para acontecer. Foi por isso que os cientistas da Epicovid – que é liderada pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel)– se mostraram surpresos com um anúncio realizado na quarta-feira (5) pelo Ministério da Saúde (MS). Com um investimento de R$ 200 milhões, a pasta informou o lançamento da Pesquisa de Prevalência de Infecção por Covid-19 (PrevCov) no Brasil.
A PrevCov tem o apoio do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde( Conasems), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas).
Os coordenadores da Epicovid apontam que nem o Ministério da Saúde, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) ou a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) fizeram contato com a equipe liderada por Hallal. Em nota, os cientistas do estudo afirmam “lamentar que, por questões políticas, a apresentação da relevante proposta de realização do PrevCov tenha deixado de reconhecer os esforços realizados por centenas de pesquisadores brasileiros”. Além disso, criticaram a postura do ministério frente à pandemia ao dizerem que a pasta “poderia ter salvado a vida de milhares de brasileiros que morreram em consequência da resposta desastrosa do Brasil à pandemia de coronavírus”.
Hallal lembra que todo e qualquer estudo de acompanhamento da evolução da covid-19 no Brasil é ótimo para que seja possível traçar recomendações e políticas públicas de combate à doença. Porém, ele pontua que causa estranheza o fato de o MS anunciar a PrevCov como pioneira no mapeamento:
— Por mais tardio que seja esse apoio, ele é importante. Porém, o inusitado é que a própria pasta financiou, no ano passado, e sabe da existência da Epicovid-BR. Por isso causou estranheza esse anúncio como se fosse algo inédito.
O coordenador do estudo aponta ainda que a parceria com a União foi descontinuada por motivos políticos:
— O MS descontinuou o patrocínio porque eles tentaram censurar os dados sobre risco de infecção pelo coronavírus entre a população indígena. Por isso, eles não mantiveram o financiamento, foi uma decisão política. Além disso, chama atenção o alto custo da PrevCov. O financiamento do Ministério da Saúde foi de R$ 12 milhões para a Epicovid, enquanto essa de agora tem orçamento de R$ 200 milhões.
A reportagem contatou o Ministério da Saúde, mas não obteve retorno até o fechamento desta matéria.
A Epicovid foi pioneira e é o mais duradouro estudo epidemiológico sobre a pandemia no Brasil. Em nível nacional, três fases da pesquisa – entre maio e junho passado – foram feitas com financiamento do ministério. Porém, em julho de 2020, o então responsável pela pasta, Eduardo Pazuello, informou que o financiamento não seria mantido. A partir da quarta rodada, a Epicovid foi conduzida com financiamento da ONG Todos pela Saúde.
Já em 2021, a quinta fase do levantamento foi financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). No total, foram entrevistados e testados 245 mil brasileiros. De acordo com os coordenadores do estudo, o custo das cinco fases do projeto foi de R$ 40 milhões, sendo R$ 12 milhões do orçamento do ministério.
No Rio Grande do Sul, a primeira etapa teve início duas semanas após a primeira morte por covid-19 no Estado. Até o momento, foram concluídas 10 fases, entre abril de 2020 e abril de 2021, e foram entrevistados e testados 45 mil gaúchos. No Rio Grande do Sul, a pesquisa conta com apoio estatal, do setor privado e é realizada em parceria com a UFPel e outras 12 universidades gaúchas. O custo total das 10 fases foi de R$ 5 milhões.