A cada cinco habitantes do Rio Grande do Sul, um apresenta anticorpos para coronavírus. Isso é o que a aponta a 10ª fase da pesquisa Epicovid19 – liderada pela Universidade de Federal de Pelotas (UFPel) e que analisa a prevalência da covid-19 no Estado. Com isso, conclui-se que 18,1% da população gaúcha – 2 milhões de habitantes – já teve contato com a doença ou foi vacinado. Pelo último levantamento, realizado entre 5 e 8 de fevereiro, o número era de 1,3 milhão.
Segundo o estudo, a amostra da pesquisa corresponde a 31% da população gaúcha, que é de 11,3 milhões de pessoas. Ao todo, foram validados 4.446 testes aplicados. Entre esses, 807 deram positivo para o vírus.
Pedro Hallal, coordenador do projeto e epidemiologista da UFPel, explica que a sinalização de organismo de proteção no corpo das pessoas pode ser por contágio pela doença, mas também pela vacinação, já que ela ajuda a criar defesa contra o coronavírus.
O estudo aponta que 26% dos entrevistados já tomaram, ao menos, uma dose da vacina. Foi a primeira vez que a pesquisa fez esse levantamento entre os analisados.
Entre o público de 80 anos ou mais o índice de vacinação chega a 94%; 66,5% das pessoas entre 60 e 79 se imunizaram no Estado. Esse valor cai para 5,9% entre os com 40 e 59 anos e volta a subir no público de 20 a 39 anos, que chega a 11%.
— Ele cresce entre os maios jovens, porque são os profissionais da saúde que estão em atividade. Mas esse são resultados excelentes, porque se tinha a preocupação em função da campanha antivacina promovida pelo presidente (Jair Bolsonaro). Mas ela não deu certo, as pessoas tomam vacina e querem se vacinar — analisa.
Das nove cidades gaúchas do estudo, Uruguaiana – na Fronteira Oeste – é o município com maior número de casos positivos para a doença. Entre as quase 500 pessoas testadas na décima rodada da pesquisa, 20,8% deles apresentaram anticorpos para o coronavírus. Além de Uruguaiana, Santa Maria, na Região Central, com 18,2% e Ijuí, no Norte, com 18%, aparecem como os municípios com os maiores índices de testes positivados para a covid-19.
Hallal alerta que, por termos esse índice populacional com anticorpos, é preciso deixar de lado a ideia de que o Rio Grande do Sul alcançou a imunidade de rebanho:
— Ainda estamos longe da imunidade coletiva. A vacinação e as medidas de distanciamento são as únicas maneiras de controlar a disseminação do vírus e evitar o aparecimento de novas mutações.
De acordo com projeções feitas por pesquisadores da Epicovid19, aproximadamente, 2 milhões de gaúchos estão ou já pegaram covid-19. Em contrapartida, dados do governo do Estado mostram que 962.667 pessoas foram infectadas.
O professor de epidemiologia da UFPel explica que a diferença entre os dados pode ser vista como uma má notícia, mas, segundo ele, o fato pode ser visto de outra perspectiva igualmente verdadeira.
— No começo da pandemia, essa diferença era 12 vezes maior. Quanto maior a discrepância, mais pessoas infectadas, mas não identificadas nós temos. Esse resultado de agora mostra que as secretarias de saúde estão conseguindo mapear uma porcentagem maior de pessoas com a doença. A diferença é duas vezes maior nessa rodada da pesquisa, na última, era seis vezes maior — explica.
Com base nessas informações, o líder da Epicovid19 sugere que o Rio Grande do Sul deve vacinar o mais rápido possível e priorizar os grupos de maior risco de evoluir para casos severos ou à morte. Além disso, eles reforçaram que é preciso manter o distanciamento social até a transmissão diminuir, porque isso ajudará a evitar o aparecimento de novas mutações do vírus e também a controlar a pandemia.
Quando perguntado sobre futuras novas fases da pesquisa, Hallal afirmou que tudo depende de financiamento:
— Temos muito interesse em promover novas rodadas do estudo, porque é importante entendermos o comportamento da pandemia, mas esbarramos no financiamento. É pouco provável que essa tenha sido a última edição da Epicovid, porém, precisamos de ajuda de parceiros para garantirmos mais uma fase.