Neste fim de semana, o Epicovid-19, estudo sobre a prevalência de coronavírus na população gaúcha, completa um ano. A data será marcada pela décima ida dos pesquisadores a campo para entrevistas e coletas em nove municípios a fim de verificar o percentual de pessoas que já têm anticorpos contra o coronavírus. Iniciado menos de 20 dias depois do primeiro óbito por coronavírus no Estado, o Epicovid-19 já entrevistou, ao longo desse período, mais de 40 mil pessoas no Rio Grande do Sul e ganhou uma versão nacional.
Concebida a partir da observação dos dados de outros países, que na época registravam os maiores índices de mortos e infectados, a pesquisa surgiu da hipótese de que havia muito mais casos de pessoas com o vírus do que apresentavam as estatísticas oficiais. Esses indivíduos, por terem sintomas leves, não procuravam os sistemas de saúde e sequer eram testados. Assim, sob a coordenação da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), formou-se uma força-tarefa, que contou com o apoio de outras universidades públicas e privadas gaúchas, da iniciativa privada e também do governo do Estado.
— Se me perguntassem há um ano, eu não tinha como imaginar que teríamos 10 etapas do estudo. É uma sensação de surpresa, mas também de dever cumprido. Dentro das nossas possibilidades e capacidades, conseguimos dar uma contribuição para a sociedade com aquilo que há de mais valioso: informação — avalia o coordenador da pesquisa, o epidemiologista Pedro Hallal, docente e ex-reitor da UFPel.
Hallal acrescenta que, além de abastecer os gaúchos com informações sobre a situação do vírus no Estado, o Epicovid-19 ganha importância pelo legado que deixa como patrimônio científico, afinal, nenhum outro estudo no mundo acompanhou a situação do coronavírus ao longo de 10 etapas.
Pesquisa aproximou gaúchos da ciência
Sem esconder a emoção, Hallal diz que um dos aspectos memoráveis do trabalho é o carinho com que a população recebe os entrevistadores, profissionais a quem o coordenador credita grande parte do sucesso do trabalho. Assim como os trabalhadores da saúde, que costumeiramente são agraciados com uma salva de palmas, os grupos de coleta da pesquisa frequentemente são homenageados por fileiras de moradores aplaudindo pelas ruas por onde passam. Sensibiliza, também, o reconhecimento do projeto por parte da população:
— O que me emociona é quando chamam o Epicovid de "a nossa pesquisa". Esse sentimento dos gaúchos de serem proprietários do trabalho é o grande destaque — comemora Hallal, acrescentando que a agilidade na divulgação dos dados, poucos dias após as coletas, ajudou a construir essa aproximação com a sociedade.
Ao contrário do que ocorre no Rio Grande do Sul, no âmbito nacional, algumas equipes de coleta foram agredidas e detidas em pelo menos sete Estados em 2020.
Fora isso, outro desafio seguidamente enfrentado são as incertezas do financiamento. Algumas etapas do levantamento gaúcho foram encerradas sem a convicção de que uma nova seria realizada, relata o líder do estudo.
— Não temos garantia da 11ª etapa, mas 11 é meu número da sorte, então não vamos parar na 10ª — ri Hallal.
Resultados
Ao longo desse um ano, a pesquisa acompanhou a evolução do coronavírus no Rio Grande do Sul. Para se ter uma ideia, no primeiro levantamento, feito entre 11 e 13 de abril de 2020, o percentual de pessoas com anticorpos era de 0,05%, ou um infectado a cada 2 mil habitantes. Já no último, apurado entre 5 e 8 de fevereiro, essa porcentagem subiu para 10%, ou um infectado para cada 10 habitantes.
— Em todas as fases anteriores, quando encontrávamos alguém com anticorpos era porque havia sido infectada. Agora, além desses, vamos identificar quem foi vacinado. Vai ser uma avaliação do mundo real da efetividade das vacinas. Esse será o grande destaque dessa décima fase — explica o epidemiologista.
Nesta etapa, que vai de sexta-feira (9) até segunda (12), os profissionais voluntários da área da saúde, sob coordenação do Instituto Pesquisas de Opinião (IPO), vão visitar 500 domicílios, em nove cidades gaúchas, totalizando 4,5 mil entrevistados. As coletas serão feitas em Pelotas, Uruguaiana, Santa Maria, Porto Alegre, Canoas, Caxias do Sul, Ijuí, Passo Fundo e Santa Cruz do Sul.
O Epicovid-19 conta com o apoio de 12 instituições de Ensino Superior: Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS); Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA); Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos); Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc); Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Unijuí); Universidade Federal de Santa Maria (UFSM); Universidade Federal do Pampa (Unipampa/Uruguaiana); Universidade de Caxias do Sul (UCS); IMED e Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS/Passo Fundo), Universidade de Passo Fundo (UPF) e Universidade La Salle (Unilasalle). Financiam o projeto o programa Todos pela Saúde, Banrisul, Instituto Serrapilheira, Unimed Porto Alegre e Instituto Cultural Floresta.
Serviço
- A pesquisa tem apoio das secretarias de saúde e dos órgãos de segurança dos municípios e segue todos os protocolos de biossegurança para proteger a saúde dos entrevistadores e participantes.
- Apesar de os entrevistadores usarem identificação, em caso de dúvidas, os moradores podem entrar em contato com a Guarda Municipal ou Brigada Militar para obter informações sobre as visitas às casas.
- Nesta etapa, serão 500 entrevistados em cada município: Pelotas, Uruguaiana, Santa Maria, Porto Alegre, Canoas, Caxias do Sul, Ijuí, Passo Fundo e Santa Cruz do Sul.