Uma pesquisa online sobre saúde mental , coordenada ao longo de um ano por pesquisadores da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), identificou entre abril de 2020 e fevereiro de 2021 uma tendência de redução dos índices de sintomas de estresse, ansiedade e depressão entre 6,1 mil entrevistados - estudantes universitários, profissionais da saúde e trabalhadores -, ao longo do que consideraram quatro ondas da pandemia de coronavírus.
Desenvolvido na Coordenadoria de Ações Educacionais (Caed) da UFSM, sob a coordenação do médico psiquiatra e professor do Departamento de Neuropsiquiatria, Vítor Crestani Calegaro, o estudo foi realizado em quatro etapas. A primeira, entre abril e maio de 2020, mostrou que 65% dos entrevistados declararam que a saúde mental piorou desde que a pandemia do coronavírus revirou a vida pelo avesso e impôs o distanciamento social. A segunda ocorreu em julho de 2020. A terceira, entre setembro e outubro de 2020. E a etapa final, entre janeiro e fevereiro de 2021.
O objetivo foi saber como as pessoas enfrentaram os primeiros meses da pandemia, quais fatores estavam relacionados aos sintomas emocionais, cognitivos e comportamentais e como os sintomas evoluíram ao longo do tempo.
Para traçar os efeitos psicológicos da covid-19 no país, o grupo criou questionários online, abertos a qualquer brasileiro acima de 18 anos. A maioria das pessoas que responderam foi do Rio Grande do Sul (74%), mulheres (75%), de cor branca (85%), com idade entre 18 e 29 anos (50%), escolaridade elevada (50% com Ensino Superior completo ou pós-graduação) e renda familiar acima de R$ 2.005 (60%).
Ao contrário da primeira fase da pesquisa, quando os participantes responderam sobre a percepção com relação à saúde mental, este dado não voltou a ser questionado pelo estudo, que optou por focar nas prevalências. No caso do estresse, na primeira etapa do levantamento, 58% responderam sentir estresse. Na quarta etapa, 45% continuaram se identificando com esse sintoma. Na prevalência de depressão, 61% demonstraram sintomas na primeira fase e 51%, na quarta.
Conforme Calegaro, há uma melhora da saúde mental na população, mas há pessoas que vivem situações particulares — como desemprego — e tiveram uma piora. Outra revelação foi que os índices acompanham as ondas da própria pandemia. Ou seja, se vier uma nova onda, os picos de aumento de sintomas voltarão a surgir.
— E agora, em maio? Provavelmente, houve uma nova piora. Porque a sensação acompanha os acontecimentos. Quando entrou a bandeira preta, digo isso pela experiência de consultório, comecei a receber pacientes que diziam que tinham os mesmos sintomas da época do fechamento, há um ano — ressalta o psiquiatra e professor.
Por ser uma pesquisa online, Calegaro destaca que ela representa um extrato da sociedade, deixando de representar quem não tem acesso à internet.
— As pessoas menos favorecidas não estão sendo vistas e não estão sendo estudadas. As mesmas pessoas que estão à margem da sociedade, estão à margem das pesquisas e são as que sofrem mais com a pandemia. São as que têm menor renda, mais ameaça da perda do emprego e vivem em ambientes menores, ou seja, no confinamento aumenta o estresse interpessoal — ressalta o pesquisador.
O estudo, que envolveu mais de 70 colaboradores, alerta que, apesar da pandemia de coronavírus, não se pode parar o atendimento público de saúde mental, pois a questão é contínua. Além disso, sugere investimentos em prevenção, formando equipes de crise e redes de cuidado, assim como em pesquisa.