Cerca de quatro em cada 10 idosos na faixa etária mais sensível a complicações pelo coronavírus ainda precisam completar o esquema vacinal que garante proteção máxima contra a covid-19 no Rio Grande do Sul.
Uma comparação realizada por GZH entre o número de aplicações feitas no Estado até esta segunda-feira (24) e a estimativa populacional para cada grupo de idade indica que 57% dos gaúchos com 80 anos ou mais completaram as duas doses, mas 43% ainda precisam concluir o processo de imunização.
Especialistas em saúde consideram fundamental que a população receba as duas doses previstas para garantir a máxima eficácia contra o coronavírus. A dose única não fornece a segurança ideal contra a pandemia, e mantém mais elevado o risco de complicações por conta da doença.
Conforme o presidente do Conselho de Secretarias Municipais de Saúde do Estado (Cosems/RS), Maicon Lemos, uma parcela significativa desse grupo prioritário deverá procurar as unidades de vacinação nesta semana.
— Boa parte deste quantitativo deverá procurar as unidades de saúde nos próximos dias, quando vence um dos prazos de três meses para a aplicação do reforço com o imunizante da Oxford/AstraZeneca — afirma Lemos.
Conforme o painel estadual de monitoramento da campanha contra a pandemia, um lote de 135 mil doses da AstraZeneca foi distribuído aos municípios gaúchos em 25 e 26 de fevereiro. Dessa forma, os idosos que se vacinaram naquela época deverão procurar pela segunda injeção agora. Somente depois desse período de mais alguns dias, segundo Lemos, será possível dimensionar melhor a real abstenção entre os mais velhos.
O painel da Secretaria Estadual da Saúde (SES) indicava, até o final da manhã da segunda, que já foram aplicadas 179,2 mil injeções de reforço entre essa faixa etária, que soma 312,8 mil pessoas conforme a estimativa calculada pelo Departamento de Economia e Estatística (DEE) para 2019 — o equivalente a 57,3% de cobertura (veja tabela completa no gráfico abaixo). Restaria, ainda, fazer cerca de 133 mil aplicações.
O painel de acompanhamento da vacinação utiliza a projeção do DEE para 2018 a fim de estimar o total da população gaúcha, mas o uso dos dados menos atualizados indicaria que o Estado atendeu com pelo menos uma injeção mais de 100% de algumas faixas etárias. Por isso, GZH preferiu empregar como referência a informação mais recente disponível, que aponta 47,6 mil pessoas a mais na população gaúcha, sobretudo nas faixas etárias mais elevadas, em relação ao ano anterior.
Os dados compilados indicam que todas as faixas etárias acima de 60 anos têm mais de 90% de adesão à primeira dose da vacina. Já o percentual mais elevado em relação ao esquema completo fica na faixa dos 70 a 74 anos, com 85% imunizados integralmente. Essa vantagem relativa pode ser fruto de uma maior facilidade de deslocamento dessa parcela da população comparado a outras mais idosas, e uma consequente adesão maior à campanha, ou, em parte, à possibilidade de terem tomado em maior grau vacinas com menor intervalo entre as doses.
Por meio de nota, a Secretaria Estadual da Saúde (SES) informou que "a situação das pessoas com 80 anos ou mais que não tomaram a segunda dose foi pauta de reunião semana passada com o Cosems, alertando para esta população". Uma das soluções discutidas é reforçar a chamada busca ativa dos eventuais faltantes, por meio de listagens já disponíveis nas coordenadorias regionais de Saúde e do trabalho de equipes de saúde da família nas comunidades.
Perto de 10% da população mais idosa não tomou a primeira dose
Mesmo que muitos idosos se imunizem nos próximos dias, a cobertura vacinal de duas doses não deverá alcançar a totalidade daqueles com mais de 80 anos no Rio Grande do Sul. Isso porque, segundo a comparação das aplicações já feitas com a estimativa populacional, perto de 10% desse público-alvo não chegou a tomar a injeção inicial.
Pela análise dos dados da campanha contra o coronavírus no Estado, 9,7% dos gaúchos mais velhos ainda não teriam começado o processo de vacinação — algo ao redor de 30 mil pessoas. Em comparação, apenas 2,7% de quem tem entre 75 e 79 anos não teria recebido a primeira dose, e apenas 0,8% daqueles entre 70 e 74 anos.
Segundo nota da SES, a dificuldade de alcançar os imunizantes à população acima dos 80 anos pode ser explicada por hipóteses como a “dificuldade das pessoas desta faixa etária de se locomoverem até as unidades de vacinação ou de estarem atentas ao seu momento de vacinar”.
Conforme a SES, as próprias prefeituras dispõem de informações para fazer uma busca ativa dos idosos que deixaram de tomar vacina utilizando, por exemplo, equipes de Estratégia de Saúde da Família. A própria secretaria estadual também disponibiliza uma lista com os nomes daqueles que perderam o prazo para a dose complementar a fim de facilitar esse processo. O relatório pode ser acessado pelas coordenadorias regionais de Saúde.