Era um número moderado de novos casos diários: 30 no dia 10, outros 32 no dia 11 e 55 no dia 12. Até que, em 13 de maio, Cachoeira do Sul, no centro do Estado, registrou 174 novas infecções pelo coronavírus em um único dia, um aumento exponencial seguido de uma superlotação hospitalar que levou a cidade a ser uma das cinco a receber o alerta do governo do Estado na terça-feira (18).
Com uma população estimada em 81 mil habitantes, Cachoeira do Sul tem a quarta maior incidência acumulada em sete dias em todo o Estado, com 398 ocorrências por 100 mil moradores. De acordo com o secretário municipal de Saúde, Marcelo Figueiró, o elevado número de novos casos de coronavírus se deve aos recentes feriados, como o Dia das Mães, quando a população relaxou as medidas de distanciamento social. Outra justificativa é a sensação de segurança dada pela vacina contra a covid-19: com 30% da população imunizada com a primeira dose, as pessoas começaram a ter menos medo de se contaminar.
Único na cidade, o Hospital de Caridade e Beneficência atende além da capacidade. Há 20 vagas de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) disponíveis, sendo que somente metade é destinada a pacientes com coronavírus. Mas há 31 leitos de UTI ocupados, o que faz a taxa de lotação extrapolar e bater em 155%. O excedente de pacientes está em leitos extras de tratamento intensivo que foram abertos no início de março para atender casos críticos de covid-19, além de internações improvisadas no pronto-atendimento, em suporte avançado.
— O hospital está lotado. Desde ontem, estamos começando a transferir pessoas para outros municípios, o que a gente nunca precisou fazer. É a primeira vez em toda a pandemia que tivemos que fazer isso — diz o secretário.
Montada ao lado da UPA de Cachoeira do Sul para atender os casos suspeitos de coronavírus, o centro de triagem da cidade registrou filas diárias na última semana. Quando a reportagem visitou o espaço na manhã desta quinta-feira (20), havia alguns poucos esperando atendimento, sentados em cadeiras de plástico. Cenário que, segundo os plantonistas da UPA, muda num piscar de olhos.
— Agora está calmo. Em uma hora, quando se vê, está tudo lotado de novo — diz a enfermeira Greicy Moralles.
Dos pacientes que chegam apresentando problemas respiratórios, Greicy ouve que não entendem o que pode ter acontecido, pois já foram imunizados.
— Pessoal perdeu muito medo depois das doses das vacinas. Pessoal diz: "Mas eu já tomei as duas doses" — relata.
Desde o início de maio, a tenda de triagem vem atendendo, em média, cem pessoas por dia, todas elas com suspeita de covid-19. Médico infectologista da UPA, Lucas Proença Dahlke diz que há exaustão por parte de médicos e enfermeiros pelo excesso de trabalho.
— A gente está muito cansado. E a comunidade acaba não vendo isso. Nunca imaginei que, depois de um ano de pandemia, Cachoeira teria um boom de pacientes — diz ele.
O prazo para Cachoeira do Sul apresentar medidas de controle do coronavírus termina nesta quinta. Segundo o secretário de Saúde, a cidade, além de manter medidas restritivas, planeja uma série de estratégias. A promessa é de que outra tenda de triagem seja montada nos próximos dias para desafogar os atendimentos na que está operando ao lado da UPA. Também foi feito um pedido ao governo do Estado para checar se há uma nova cepa do coronavírus circulando no município, o que poderia ter causado a explosão de infecções.
— Dado esse pico que houve, pedimos ao governo do Estado para analisar se há uma nova cepa em circulação. Também pedimos abertura de vagas em outros municípios, porque as UTIs estão lotadas. Além disso, estamos organizando uma fiscalização mais pesada a partir da próxima segunda-feira (24) — diz Figueiró.