A vacinação dos gaúchos que moram na fronteira com o Uruguai pode ganhar grande impulso se vingar a articulação política feita por autoridades políticas dos dois países. A ideia é imunizar todos os brasileiros que residem na faixa fronteiriça, não apenas os doble chapa – moradores com dupla nacionalidade, brasileira e uruguaia, que já têm direito à vacina uruguaia.
A expectativa é de que o governo do país vizinho disponibilize inicialmente a vacina para moradores de Santana do Livramento, cidade gaúcha que, com a uruguaia Rivera, congrega cerca de 200 mil moradores da fronteira. A estratégia deve ser implementada, depois, em outras cidades da região, todas elas com apenas uma avenida ou ponte a separar os dois países.
O plano de alcançar uma cobertura capaz de imunizar a fronteira como um todo foi discutido esta semana num encontro virtual que envolveu o embaixador uruguaio no Brasil, Guillermo Valles, o diplomata brasileiro em Montevidéu Antonio José Ferreira Simões, e a secretária de Relações Federativas e Internacionais do Rio Grande do Sul, a ex-senadora Ana Amélia Lemos. Com as bençãos do Itamaraty, o comitê estuda duas alternativas. Uma delas é o Uruguai doar vacinas, que o país já comprou e tem sobras. Os uruguaios trabalham com imunizantes da Sinovac, Pfizer e AstraZeneca. A outra opção é ocorrer uma venda.
Um dos impulsionadores da iniciativa é o vereador de Santana do Livramento Duda Amaral (PP). Dia 14, na Reunião da Comissão Mista do Mercosul na Assembleia Legislativa gaúcha, ele sugeriu que os uruguaios doem sobras de vacinas aos gaúchos fronteiriços. Defendeu o mesmo em encontros com parlamentares uruguaios de Rivera.
— A doação me parece menos burocrática e mais rápida, mas também ressaltamos que, se for uma venda ou troca por outro tipo de serviço, na fronteira, será muito bem-vinda a vacina.
Com relação à imunização, os uruguaios estão com o dobro do percentual brasileiro, estima o deputado uruguaio Marne Osório (Partido Colorado), em entrevista a GZH.
— A estimativa é que Rivera já tenha 40% da sua população vacinada, e Santana do Livramento, 20% — informa Marne, ex-intendente da cidade de Rivera (Uruguai) e um dos defensores da cedência gratuita de sobras de vacinas uruguaias ao Brasil.
Marne ressalta que, na próxima sexta-feira (30), um grupo técnico com representantes uruguaios e brasileiros planejará a ação conjunta. Ela deve definir quantos brasileiros seriam vacinados, por exemplo.
O plano, que conta com apoio do governo estadual de Eduardo Leite (PSDB), é fundamental para a reabertura dos freeshops, motores da economia uruguaia. Hoje eles estão fechados porque o país está com altíssimo grau de contaminação, embora tenha avançado muito na vacinação. Os uruguaios decidiram cerrar as portas do comércio porque acreditam que o vírus esteja chegando pelos brasileiros que vão à fronteira fazer compras. Como o trânsito entre as cidades fronteiriça é livre, o vírus prolifera também.