A Polícia Federal irá investigar o caso de empresários mineiros que adquiriram e tomaram doses de vacinas contra a covid-19 sem repassar os imunizantes ao Sistema Único de Saúde (SUS). O caso foi relevado em reportagem da revista piauí publicada nesta quarta-feira (24).
Segundo a revista, o grupo formado por políticos e empresários do setor de transportes adquiriu doses da Pfizer e aplicou secretamente em 50 pessoas. Um dos que teriam recebido a dose foi o ex-senador Clésio Andrade, ex-presidente da Confederação Nacional do Transporte (CNT).
— Estou com 69 anos, minha vacinação (pelo SUS) seria na semana que vem, eu nem precisava, mas tomei. Fui convidado, foi gratuito para mim — disse à piauí.
Ao Estadão, Andrade negou ter sido vacinado pelo grupo.
— Desconheço. Estou em quarentena aqui no Sul de Minas. Tive covid — afirmou.
Seis vídeos obtidos pelo Estadão mostram pessoas sendo vacinadas na noite de terça-feira, (23), na garagem de uma empresa de transporte localizada em Belo Horizonte. As imagens foram gravadas por vizinhos do local, que denunciaram um esquema clandestino de imunização contra a covid-19 pela viação Saritur. O vai e vem ocorreu após as 20h, quando já estava em vigor o toque de recolher determinado pela prefeitura.
As imagens exibem uma aglomeração de carros em volta da entrada do local. Uma mulher de jaleco branco vai até o porta-malas de um carro, retira a vacina, e aplica nos motoristas. Alguns descem do carro para receber sua dose. Outros são vacinados dentro do próprio carro. Uma outra pessoa anota nomes em uma ficha, como se estivesse confirmando cada vacinação dada.
A compra de vacinas pela iniciativa privada é permitida no Brasil desde o início do mês, no entanto, os imunizantes devem ser repassados ao SUS até que todos os brasileiros do grupo de risco sejam vacinados, o que ainda não ocorreu. A regulamentação foi feita em projeto de lei que tramitou a jato no Congresso e foi sancionado pelo presidente Jair Bolsonaro no último dia 10.
As doses da Pfizer contratadas pelo Ministério da Saúde ainda não chegaram ao país. A farmacêutica nega "qualquer venda ou distribuição de sua vacina contra a covid-19 no Brasil fora do âmbito do Programa Nacional de Imunização". "A vacina COMIRNATY ainda não está disponível em território brasileiro", frisou, em nota.
Na noite de quarta, o deputado federal e ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha (PT-SP) acionou o Ministério Público de Minas Gerais requisitando a abertura de investigação e o confisco das vacinas compradas pelos empresários.
Operação Taipan
Mais cedo, a PF deflagrou a Operação Taipan contra grupo suspeito de oferecer fraudulentamente, ao Ministério da Saúde, 200 milhões de doses de vacinas contra a covid-19, em nome de um grande consórcio farmacêutico. A corporação considera o caso como uma tentativa de estelionato clássico, que não teve êxito.
Agentes cumprem sete mandados de busca e apreensão nos estados de Minas Gerais e Espírito Santo. As ordens foram expedidas pela Justiça Federal do Distrito Federal. De acordo com a PF, as investigações tiveram início após comunicação feita pelo próprio Ministério da Saúde.