Um grupo de políticos e empresário brasileiros teria tomado, na terça-feira (23), em Belo Horizonte, a primeira dose da vacina da Pfizer/BioNTech contra o coronavírus — o imunizante já tem registro definitivo da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), mas ainda não faz parte do Plano Nacional de Imunização. Segundo apuração da revista piauí, eles compraram as doses por contra própria, não repassaram ao Sistema Único de Saúde (SUS) e pagaram, por cada ampola, cerca de R$ 600.
Seriam políticos e empresários ligados ao setor de transporte de Minas Gerais, além de seus familiares. Fontes ouvidas pela reportagem disseram que quem organizou a vacinação particular foram os irmãos Rômulo e Robson Lessa, donos da Viação Saritur, importante empresa mineira de transporte. A imunização feita na terça teria ocorrido em uma garagem de uma das empresas da Saritur.
O grupo deve receber a segunda dose da vacina da Pfizer daqui a 30 dias, ainda segundo a revista piauí. O imunizante recebeu o nome de Comirnaty, e a informação oficial mais recente sobre a chegada dele no Brasil se refere ao acordo que o governo federal fechou com a farmacêutica americana para o fornecimento de 100 milhões de doses até o final do terceiro trimestre desse ano.
No início de março, o Congresso Nacional aprovou uma lei que permite que a iniciativa privada compre vacinas contra a covid-19. No entanto, as doses não poderão ser utilizadas enquanto não tiverem sido imunizadas todas as pessoas dos grupos prioritários, como idosos e profissionais da saúde. As vacinas adquiridas devem ser doadas ao SUS e, mesmo quando o grupo prioritário estiver devidamente vacinado, as doses da iniciativa privada precisam ser divididas pela metade com o SUS. A outra metade deve ser distribuída de forma gratuita — como, por exemplo, empresas que compraram as vacinas para seus funcionários.
Em entrevista à piauí, o ex-senador Clésio Andrade, que também é ex-presidente da Confederação Nacional dos Transportes (CNT), admitiu que integra o grupo que tomou o imunizante da Pfizer em Belo Horizonte — e não pagou nada pela dose.
— Estou com 69 anos, minha vacinação (pelo SUS) seria na semana que vem, eu nem precisava, mas tomei. Fui convidado, foi gratuito para mim — confessou.
O projeto de lei que regulamenta a compra de vacinas pelo setor privado é de autoria do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), cuja família faz parte do ramo dos transportes. Em resposta à piauí, o político garantiu que desconhece "o assunto" da vacinação em Belo Horizonte e ainda disse que "a lei não admite vacinação privada, mas aquisição de vacina para doação ao SUS".
Também contatada, a farmacêutica Pfizer comunicou, em nota, que “nega qualquer venda ou distribuição de sua vacina contra a covid-19 no Brasil fora do âmbito do Programa Nacional de Imunização. O imunizante Comirnaty ainda não está disponível em território brasileiro. A Pfizer e a BioNTech fecharam um acordo com o Ministério da Saúde contemplando o fornecimento de 100 milhões de doses da vacina contra a covid-19 ao longo de 2021”.