Se o Rio Grande do Sul apresentou, nos primeiros dias de fevereiro, estabilidade no número de mortes por coronavírus, a segunda quinzena foi marcada por um crescimento que elevou a média de vítimas diárias a mais do que o dobro em comparação ao início do mês, segundo dados da Secretaria Estadual da Saúde (SES) desta quarta-feira (3) analisados por GZH.
Em 28 de fevereiro, a média móvel foi de 93,6 mortes diárias por coronavírus, um salto de quase 110% frente à primeira semana do mês. Também avançou quase 50% em comparação à média móvel do mesmo dia da semana anterior, como mostra o gráfico a seguir.
O mês registrou ainda recordes de mortos por covid-19 em um único dia: em 28 de fevereiro, 111 vítimas foram confirmadas.
O resultado é que, apesar de haver dados parciais que devem crescer nos próximos dias, fevereiro já é o segundo mês mais letal da pandemia no Estado, com 1.741 mortes. Em janeiro, haviam sido 1.740 mil e, em dezembro, 2 mil, como mostra o gráfico a seguir.
O desfecho da segunda metade de fevereiro ainda não foi afetado pelas aglomerações de Carnaval e pelo atual agravamento da situação do sistema de saúde, explicam três analistas consultados por GZH. Isso porque o óbito por covid-19 costuma ocorrer entre três e quatro semanas após a pessoa ser infectada, ainda que haja casos de pacientes internados por meses.
— O quadro de óbitos de hoje reflete o pré-Carnaval. O aumento brutal de casos e de internações de hoje seguramente vai refletir, infelizmente, em mortes, o que será demonstrado somente em março e, talvez, em abril — diz o médico Alexandre Vargas Schwarzbold, professor de Infectologia na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
O crescimento verificado no fim de fevereiro se explica porque o Rio Grande do Sul tinha, já antes do Carnaval, uma alta circulação do vírus, grande ocupação de hospitais e foi afetado pela nova variante do Sars-Cov-2, avalia o médico Ronaldo Hallal, do Comitê Covid-19 da Sociedade Sul-Riograndense de Infectologia (SRGI).
— A tendência atual de propagação e expansão da pandemia começou a se refletir no fim de fevereiro, quando governantes toleraram a intensa circulação do vírus. E, agora, temos a sinalização de abertura de escolas em um cenário de caos — diz Hallal.
O quadro de óbitos de hoje reflete o pré-Carnaval. O aumento brutal de casos e de internações de hoje seguramente vai refletir, infelizmente, em mortes, o que será demonstrado somente em março e, talvez, em abril
ALEXANDRE VARGAS SCHWARZBOLD
Professor de Infectologia na UFSM
O menor número de mortes em fevereiro frente a dezembro reflete a queda de mobilidade em janeiro, um período no qual grande parcela dos gaúchos estava em férias, sem interagir no trabalho ou no transporte público, avalia o cientista de dados Isaac Schrarstzhaupt, coordenador da Rede Análise Covid-19.
— Como janeiro foi um mês de queda de casos em relação a dezembro, era esperada uma redução de óbitos em fevereiro mesmo. Só que a segunda metade de fevereiro já começou, infelizmente, a produzir óbitos em excesso — afirma.
Schrarstzhaupt pontua que, apesar das expectativas, não houve explosão de casos no Natal e no Ano-Novo, porém cita que, no fim de janeiro, o Rio Grande do Sul testemunhou um aumento da mobilidade – sinal de que grande parcela da população voltara das férias para o trabalho diário. Ele acrescenta que a nova cepa de Manaus pode ter contribuído para o rápido crescimento no número de vítimas no fim de fevereiro.
— Essa redução de mortes no início de fevereiro é consequência da queda de casos em janeiro, por causa da diminuição de mobilidade devido ao veraneio. Quando trocou de janeiro para fevereiro, voltaram os índices de mobilidade de novembro e dezembro. Aí aumentaram os casos e, na segunda metade de fevereiro, as mortes. Mas esse aumento da mobilidade não deveria ter causado um crescimento tão grande nas mortes. A nova variante com certeza tem um papel aqui — acrescenta o coordenador da Rede Análise Covid-19.
Na comparação com o resto do país, a última semana de fevereiro do Rio Grande do Sul teve a quinta pior taxa de mortes a cada 100 mil habitantes, atrás de Amazonas, Rondônia, Roraima e Santa Catarina, conforme informações desta quarta-feira do Comitê de Dados do Palácio Piratini.
No histórico da pandemia, o Rio Grande do Sul, visto no ano passado como referência nacional no combate à covid-19, vem piorando o desempenho. Se já chegou a figurar entre as cinco unidades da Federação com, proporcionalmente, menos vítimas, hoje está em 11º lugar. A melhor resposta é do Maranhão e a pior, do Amazonas.