Os municípios gaúchos já estão liberando doses da vacina contra a covid-19 para profissionais da saúde que não atuam na linha de frente no combate à pandemia, mesmo que sejam jovens e sem registro de problemas de saúde. Em Porto Alegre, no sábado (6), entidades que representam classes do setor da saúde passarão a aplicar a vacina nos profissionais que desejarem receber a dose. As ampolas serão repassadas pelo município.
O Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers), por exemplo, cadastrou entre terça (2) e quarta-feira (3) cerca de 2 mil interessados. Conforme o Simers, haverá vacina para todos eles. Esses médicos receberão as aplicações no sábado, em formato drive-thru, em frente à sede do Simers, ou dentro da entidade, no bairro Petrópolis. A exigência para ser vacinado é ser médico em atividade e morar na Capital.
O Conselho Regional de Odontologia do Rio Grande do Sul (CRO/RS) já contabiliza 4 mil dentistas, técnicos e auxiliares interessados em receber o imunizante no sábado. Se não houver doses para todos, a vacinação será feita dos mais velhos para os mais jovens.
O chefe da Vigilância em Saúde de Porto Alegre, Fernando Ritter, explica que a cidade segue a recomendação estadual.
— O município de Porto Alegre está seguindo a recomendação de grupos prioritários definida pela Secretaria Estadual da Saúde (SES), que colocou como prioridade os profissionais que estão na linha de frente e também os outros, não necessariamente na linha de frente, mas que também atendem pacientes com sintomatologia gripal ou de coronavírus — aponta Ritter.
A orientação estadual de prioridades, até o momento, indica que as doses existentes devem ser usadas para profissionais da saúde, indígenas, idosos em asilos e pessoas com deficiência institucionalizadas. Conforme a resolução 9/21, emitida pela SES na segunda-feira (1º), a vacinação dos idosos em geral só deve começar quando 100% desses grupos tiverem sido imunizados e houver sobra de doses.
Prioridade para os profissionais protege idosos, aponta diretora
A estratégia de priorizar os profissionais da saúde, ainda que não sejam envolvidos no enfrentamento direto ao coronavírus, passa por uma orientação do Ministério da Saúde e é endossada pela SES. A diretora do Centro Estadual de Vigilância em Saúde (Cevs), Cynthia Bastos, explica que há duas razões principais para essa tomada de decisão, sendo a primeira delas o fato de que imunizar o entorno dos idosos é a a melhor forma de protegê-los:
— Essa ideia que as pessoas têm de que vacinar os idosos é protegê-los não é verdadeira. O idoso vacinado faz uma resposta imune completamente errática. Não tem como saber, por ter vacinado uma pessoa de 90 anos, que ela está protegida. É muito mais importante usar máscara e lavar as mãos ao se aproximar do idoso do que vaciná-lo.
Além disso, Cynthia destaca que os profissionais da saúde que hoje não estão na linha de frente podem, futuramente, ser chamados à atuação direta no combate à covid-19, caso haja uma piora drástica no cenário de hospitalizações.
— Se o idoso adoecer, ele precisa de um sistema estruturado para que possa receber atendimento. A gente precisa manter profissionais vacinados para, conforme forem caindo os que estão no mercado, entrar os outros (que hoje não estão na linha de frente). É a mesma ideia do avião, de colocar primeiro o respirador no adulto, depois na criança. Se tu não vacinar todo o entorno do idoso, ele não está protegido — reforça Cynthia.
Como já há municípios informando que vacinaram 100% dos seus profissionais da saúde, a tendência é que a SES emita uma nova orientação, até sexta-feira (5), prevendo o roteiro de imunização dos idosos em geral. De acordo com a chefe da Cevs, a próxima remessa de vacinas já será parcialmente destinada para idosos, começando a imunização para os grupos de idade mais avançada:
— A ideia é que a próxima leva de vacinas a gente já faça a divisão para os bem idosos, e já passe mais um pouco para os profissionais da saúde.
Até o momento, os indicadores estaduais mostram que 66% dos profissionais da saúde já foram vacinados. O grupo inclui trabalhadores com formações diversas que atuam fisicamente em instituições de atendimento à saúde.
A distribuição de doses entre os profissionais da saúde respeita uma ordem de 12 níveis de prioridade, desde os vacinadores e intensivistas até os médicos de consultório particular sem relação direta com a doença e os de setores administrativos.