Em meio a um número crescente de pacientes internados em unidades de terapia intensiva (UTI) para tratamento de covid-19, médicos relatam uma mudança no perfil dos pacientes. Se no início da pandemia eram idosos com comorbidades, atualmente são mais jovens, que chegam ao hospital com quadros pulmonares complexos e graves. A boa notícia é que respondem de maneira mais rápida ao tratamento.
— Assim como a gente intervêm de forma mais aguda, a melhora também vem de forma mais precisa. Neste momento, por exemplo, estamos com aproximadamente 50% dos pacientes com idades em torno de 40 anos, com uma resposta terapêutica animadora, mais rápida, o que muitas vezes não víamos em pacientes com maior idade — descreveu Leonardo Marques, médico intensivista do Hospital Nossa Senhora da Conceição em entrevista ao Timeline, da Rádio Gaúcha, nesta quarta-feira (24).
Na avaliação da coordenadora da UTI do Conceição, Taiani Vargas, este é o pior momento da pandemia do coronavírus desde março de 2020, quando o cenário começou a se agravar no Rio Grande do Sul. Segundo Taiani, dos 75 leitos do hospital, somente dois estavam vagos nesta manhã.
— Mas há pacientes para chamar. É um trabalho contínuo: um recebe alta e entra outro — completou.
A coordenadora disse que o hospital tem equipamentos e suprimentos, e que desde o início da pandemia não houve falta de material. Esclareceu ainda que, conforme a situação da pandemia vai evoluindo, a instituição confere os estoques para que não ocorra a falta de itens essenciais.
O afastamento da família
Para além dos desafios para controlar os efeitos do coronavírus no corpo, Marques disse que a pandemia trouxe outra preocupação para pacientes e equipes de saúde: o afastamento dos familiares.
— A gente aprendeu a ter um paciente com celular para ter contato com a família, a consolar um paciente, para que essa quebra (de laços) entre o paciente e a família não ocorra — descreveu.
O médico enfatizou ainda que é comum pacientes relatarem ter medo de ficar sozinhos, longe dos familiares e sem saber o que está acontecendo em casa:
— A covid-19 é uma doença que te afasta, te isola e te deixa sozinho. Então, as pessoas estão se sentindo sozinhas e abandonadas, e acho que isso é uma coisa que o ser humano nunca tolerou na vida. As pessoas têm que se conscientizar disso: ficar doente é ruim, ter risco de morte é ruim, mas passar por tudo isso isoladamente é pior ainda.
Taiani completou afirmando que as equipes são a família dos pacientes. Ela também relatou que, muitas vezes, quando há necessidade de intubação, os pacientes pedem para fazer uma ligação ou chamada de vídeo com os familiares, e que sempre que há condições, as equipes atendem esse pedido:
— Esse momento é sempre muito marcante para todos nós, para toda a equipe, porque nunca se sabe o que vai acontecer dali para a frente, e não deixa de ser uma despedida.
Em relação à atuação das equipes do hospital, Marques afirmou que o trabalho na UTI sempre foi pesado, mas que agora os profissionais também carregam junto o medo de passar o vírus para seus familiares. Mesmo assim, garantiu que todos seguem firmes.
— Estamos cansados, mas a gente não desiste, a gente luta e trabalha. Não vamos nos entregar, porque faz parte da terapia intensiva e do trabalho dos médicos e das equipes. É isso que a gente veio fazer: tratar as pessoas, levar carinho e fazer o melhor tecnicamente e humanamente para toda a população que precisa de atendimento — concluiu o médico.
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