O segundo filho de Louise e Heron Baasch, moradores de Florianópolis, em Santa Catarina, nasceu em meio à pandemia de coronavírus, em 22 de agosto de 2020. A alegria pela chegada do caçula, no entanto, logo deu espaço ao medo e à preocupação, que tiveram início quando os pais perceberam que o menino estava ficando com a pele cada vez mais amarelada — sintoma que poderia indicar algum problema de saúde.
Aos dois meses de idade, Matheus foi diagnosticado com deficiência de alfa 1 antitripsina, uma grave doença genética que acomete o fígado e pode levar à morte. Para salvar a vida do pequeno, a única saída seria fazer um transplante do órgão. Durante a primeira internação, ainda na capital catarinense, os pais foram comunicados de que a criança precisaria dessa cirurgia, tendo como recomendação hospitais e especialistas de São Paulo e Porto Alegre.
— Fiquei sem chão, é o pesadelo de toda mãe descobrir que seu filho tem uma doença tão séria. Só de ouvir falar na possibilidade de um transplante meu sangue gelou. Pensar em um bebezinho tão pequeno em um centro cirúrgico não parecia fazer sentido — relembra Louise.
De acordo com Heron, o casal não entendia como funcionavam os transplantes infantis e achava que precisaria aguardar até que um doador falecido compatível aparecesse:
— Eu tinha um sentimento muito grande de que era como uma agulha no palheiro, teria que coincidir um falecimento da mesma idade e tipo sanguíneo, eu achava que nunca daria certo. Quando nos reunimos com a médica em São Paulo, ela nos esclareceu que os pais poderiam doar. Ouvir isso parece que nos tirou um peso das costas.
Tanto Louise quanto Heron eram compatíveis com Matheus. O pai explica que a escolha do doador nem precisou ser discutida, pois a esposa estava bem mais desgastada e não seria justo fazê-la passar por mais uma situação delicada.
O transplante
A família optou pela capital gaúcha, pois tem familiares na cidade. Pouco tempo depois, Louise e Matheus já estavam internados no Hospital da Criança Santo Antônio, da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, onde ficaram por uma semana.
Pai e filho fizeram uma série de exames e, em 21 de dezembro, foram liberados para ir para casa, antes de voltar para fazer o transplante, que estava marcado para 11 de janeiro. Na véspera de Natal, Matheus apresentou uma piora e precisou ser internado novamente em Santa Catarina.
De volta a Porto Alegre, o menino precisou ser sedado, pois já estava sem função hepática. O procedimento teve de ser antecipado para 4 de janeiro e, em uma cirurgia de 12 horas realizada pela equipe de transplante hepático pediátrico intervivos da Santa Casa, coordenada pelo médico Antônio Kalil, Heron teve parte do seu fígado implantado em Matheus, que na época tinha quatro meses.
— Liberei-o para passar as festas de final de ano em casa, em Santa Catarina, mas ele ficou muito mal, com grandes chances de não resistir a uma viagem até Porto Alegre. Então, manejamos a situação a distância, por telefone, e, assim que possível, a família embarcou em um avião. Assim que aterrissaram, o internamos imediatamente na UTI, em estado muito grave. Por isso, antecipamos a cirurgia — afirma a gastroenterologista pediátrica Melina Melere.
Recuperação
Em 30 de janeiro, Matheus recebeu alta. Segundo Heron, antes disso o filho já estava muito melhor, com todas as infecções combatidas:
— Ele começou a aceitar e dieta do leite e a sorrir muito. Quando ele saiu da UTI para o quarto, estava dando gargalhadas e seguiu assim quando foi para casa. Ele é um bebê muito tranquilo, dorme com facilidade, dá muita risada e hoje não apresenta nenhum sinal de desconforto.
O pai ainda afirma que não sabem o que vai acontecer daqui em diante, mas que o alívio e a felicidade são enormes.
— É surreal porque a gente começou o mês de janeiro achando que teria a infelicidade de ver um filho falecer, mas terminamos o mesmo mês recebendo alta do hospital. A gente não pensa em mais nada, não se preocupa mais com nenhuma bobagem, só estamos curtindo, estamos nas nuvens — comenta.
O sentimento de Louise é semelhante. Ela afirma ser difícil acreditar em tudo que aconteceu e que o episódio pareceu um pesadelo.
— Agora a gente tem um bebê feliz, que se desenvolve, que cresce, que está engordando. Ele é muito forte, tem muita vontade de viver, é sorridente e simpático. Ficamos muito felizes de ter o privilégio de tê-lo na nossa vida — conclui a mãe.