A professora Cleuza Maria da Silva Silveira, 69 anos, morreu na quarta-feira (6) vítima de complicações causadas por uma pneumonia após contrair covid-19. Ela estava internada no Hospital Santa Luzia, em Capão da Canoa, no Litoral Norte, desde 30 de dezembro de 2020.
Na segunda-feira, uma equipe de GZH passava ao lado do hospital quando flagrou uma cena inusitada: desde que ela foi internada com suspeita doença, os filhos passaram a fazer um plantão do lado de fora do hospital. Era para que ela pudesse os ver da janela, enquanto eles faziam gestos e falavam com a mãe, que respondia com frases curtas e olhares atentos. Foi a forma encontrada pela família de reduzir o isolamento causado pela covid-19, que, inicialmente suspeita, foi confirmada em um teste posterior.
A família chegou a passar o Réveillon ao lado do hospital, em plantão.
Cleuza sentiu os primeiros sintomas da doença em 27 de dezembro, quando estava na casa do filho, em Capão da Canoa, onde passaria o feriado. Era uma febre, que passou no mesmo dia. Em 30 de dezembro, ela voltou a se sentir mal e foi internada. Uma tomografia apontou comprometimento pulmonar de 25% a 50%. A professora chegou a apresentar melhoras, o que passou confiança aos médicos e à família. No entanto, em 6 de janeiro, uma pneumonia avançou de forma fatal.
A professora não tinha comorbidades. Em 2014, venceu um câncer de mama após mais de 60 sessões de radioterapia.
Apaixonada pela educação, ela dava aulas há 42 anos na rede pública estadual e, em 2020, se adaptou às novas tecnologias para conseguir se manter conectada com os alunos. Dedicou a vida ao ensino.
Natural de Mostardas, escolheu o bairro de Bacupari, em Palmares do Sul, para morar. Ali, deu aulas na rede pública municipal, onde já estava aposentada, e seguia lecionando para o estado na Escola Mario Quintana, na praia da Solidão, onde era querida pelas famílias.
– Ela dedicou a vida para o próximo. Para cuidar da comunidade, para educar as crianças. Não tem uma família aqui, da nossa localidade, que a minha mãe não tenha contribuído de alguma forma. Seja levando alimentos, seja levando cultura, seja levando educação, seja levando sonhos – recordou orgulhosa a filha Jennifer Silveira, 28 anos.
Quando não estava trabalhando, ela gostava de cuidar dos jardins da casa e de observar os pássaros, abundantes no Litoral Norte.
Para Jennifer, servidora pública de Palmares, a mãe "foi voar livre no céu":
– Fica a lembrança de força, de amor, de união, de respeito. A minha mãe era tudo de bom. A palavra que mais definia minha mãe era fortaleza, ela era uma pessoa maravilhosa. Ela era um foguete.
Cleuza completaria 50 anos de casada com Valdevino Terra da Silveira, 80 anos, em agosto. Ela deixa dois filhos biológicos (Jennifer e Jeferson Silveira, 48) e uma de criação, que a chamava de dinda, além de dois netos.
Ela foi sepultada no final da manhã desta quinta, no cemitério da Solidão, no mesmo lugar onde pôs em prática seu sonho de contribuir com a educação de crianças e famílias para possibilitar que elas alçassem voos cada vez mais altos. A cerimônia foi restrita e rápida, com o caixão separado por um vidro devido ao risco de contaminação pelo coronavírus.
As fotos da família ao lado do hospital, registradas pelo fotógrafo de GZH Marco Favero, foram as últimas de Cleuza com a família. Em uma delas, sorridente, ela acena após mandar beijos.