Para reduzir a aflição que os dias de isolamento estão causando à professora Cleuza Maria da Silva Silveira, 69, internada com suspeita de covid-19 do Hospital Santa Luzia, em Capão da Canoa, no Litoral Norte, a família dela decidiu improvisar: todos os dias, os filhos ficam na calçada, do lado de fora, em um ponto onde a idosa consegue vê-los de dentro do seu quarto.
A companhia pela janela foi a forma encontrada pelos parentes para ajudá-la a driblar a tristeza que ela vinha relatando desde que precisou ser internada, no dia 30 de dezembro de 2020. Até mesmo durante o réveillon, no momento da virada de ano, os parentes não arredaram o pé da Rua Tiaraju.
— Ficamos aqui e fizemos um abraço de longe. Estávamos todos chorando, ela de lá e nós daqui — contou Jennifer Silveira, 28, filha da professora.
Jennifer, servidora pública de Palmares do Sul, é a principal responsável pelos plantões. Ela passa uma parte do dia do lado de fora do hospital, acompanhando sua mãe, voltando para casa onde está hospedada em Capão da Canoa para se alimentar, dormir e fugir do sol quando está muito forte. Do lado de fora, ela consegue conversar e perguntar como foram os exames.
As respostas são curtas, com balanços positivos ou negativos com o rosto ou gestos, para evitar o desgaste, mas já representam um alívio pela proximidade:
— Ela estava muito triste, chorou bastante no começo, não queria ficar sozinha, com medo. Quando descobrimos que dava para ver ela da janela, viemos pra cá para dar força pra ela.
A presença familiar parece estar dando resultado. Na tarde desta segunda-feira (4), quando a equipe de GZH passava pelo local e presenciou a cena, estava Jennifer, dois irmãos e o marido de Cleuza, Valdevino, 80, com quem ela é casada há 49 anos. Quando a filha falou que eram repórteres que acharam a cena curiosa, a idosa abriu um sorriso e mandou um beijo.
Cleuza, professora da rede pública estadual há 42 anos e que se adaptou ao home office e às novas tecnologias em 2020, sentiu os primeiros sintomas no dia 27 de dezembro, quando teve uma febre. Três dias depois, enquanto a família estava em Capão da Canoa para o feriado de Ano-Novo na casa de um dos filhos dela, a febre voltou e ela foi internada. Uma tomografia apontou pneumonia e comprometimento de 25 a 50% os pulmões. A família não sabe como ela contraiu o vírus, já que ela se tinha cuidados rígidos.
Os médicos já relataram aos familiares que notaram melhora no quadro dela e a expectativa da filha é de que ela possa sair em breve:
— Temos muita fé e esperança. A mãe sempre foi fortaleza, encara todas as adversidades de frente. Estaremos lá, todo santo dia, para não deixar esmorecer.