Um ofício encaminhado ao presidente Jair Bolsonaro e assinado por 15 governadores pede que o governo brasileiro estabeleça "diálogo diplomático" com a China e com a Índia para que sejam liberados os insumos para produção interna de vacina contra o coronavírus e enviados imunizantes fabricados em território indiano já comprados pela União. O apelo é liderado pelo governador do Piauí, Wellington Dias, que coordena, no Fórum de Governadores, a temática de vacina.
O objetivo, segundo o documento enviado ao Palácio do Planalto, é evitar a interrupção da imunização no Brasil, que começou no domingo (17).
Está na farmacêutica Sinovac, na China, o IFA (Ingrediente Farmacêutico Ativo), insumo indispensável para a produção interna das doses da CoronaVac pelo Instituto Butantan. O atraso da entrega da matéria-prima tem a ver com “questões técnicas” ligadas à burocracia no processo de exportação. Pelo menos foi isso o que informou o embaixador da China no Brasil, Yang Wanming, ao presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), nesta quarta-feira (20), durante reunião em Brasília.
Segundo Maia, Wanming sugeriu, porém, que há falta de um canal de diálogo por parte do governo brasileiro, mas descartou que a causa do obstáculo seja política. O embaixador disse a Maia que os insultos feitos por integrantes do governo brasileiro contra a China não têm relação com o impasse.
Em nota divulgada no final do dia, a Secretaria das Comunicações do Governo Federal afirma que o Brasil tem mantido negociações com a China.
"Outros ministros do governo federal têm conversado com o embaixador Yang Wanming. No dia de hoje, foi realizada com o embaixador uma conferência telefônica com participação dos ministros da Saúde, da Agricultura e das Comunicações. Ressalta-se que o governo federal é o único interlocutor oficial com o governo chinês", afirma a nota (confira a íntegra ao final).
A embaixada chinesa confirmou o diálogo com o governo brasileiro e uma conversa com o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello. "Conversaram (Pazuello e o embaixador) sobre a cooperação antiepidêmica e de vacinas entre os 2 países. A China continuará unida ao Brasil no combate à pandemia para superar em conjunto os desafios colocados", afirmou, sem citar uma data para a entrega dos insumos.
Em coletiva de imprensa realizada nesta quarta-feira (20), o diretor-presidente do Instituto Butantan, Dimas Covas, disse que não há data para liberação de 5 mil litros de IFA que estão em território chinês, mas que o escritório do governo de São Paulo em Xangai também está tentando desembaraçar a carga. Com essa quantidade, será possível fabricar mais 5 milhões de doses da CoronaVac, único imunizante disponível, por enquanto, para imunização dos brasileiros.
Além de ter aprovado o uso emergencial dessa vacina no domingo, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) liberou o uso de 2 milhões de doses da fórmula criada pela AstraZeneca (em parceria com a Universidade de Oxford) que foram fabricadas pelo Instituto Serum, na Índia. No dia 15, um avião da Azul representando o governo brasileiro iria buscar as vacinas, porém, horas antes da decolagem, o governo indiano não deu aval para a exportação da carga. O início da imunização da população indiana, cerca de 1,3 bilhão de pessoas, foi o impeditivo apresentado pelo país asiático.
Em resposta a um questionamento feito por GZH, o Ministério das Relações Exteriores encaminhou nota informando que permanece em “estreito contato” com as autoridades indianas para concretizar a importação das doses da AstraZeneca. “O tema está sendo conduzido por meio dos canais diplomáticos apropriados, em diferentes níveis”, completa a nota. O mesmo foi dito em relação ao problema de importação com a China.
Desde domingo, o Brasil tem apenas 6 milhões de doses de vacina disponíveis para serem usadas na população. Outras 4,8 milhões de unidades fabricadas em território brasileiro pelo Instituto Butatan podem estar disponíveis assim que a Anvisa liberar o novo pedido de uso emergencial feito pelos paulistas, o que deve ocorrer até sexta-feira (22).
O Brasil depende do IFA para dar continuidade à campanha de vacinação contra o coronavírus depois que essas primeiras doses forem usadas. Não há estimativa de quanto tempo dura a imunização em território nacional com as vacinas que hoje já estão ao alcance da população.
Confira a nota do governo federal na íntegra
O Governo Federal vem tratando com seriedade todas as questões referentes ao fornecimento de insumos farmacêuticos para produção de vacinas (IFA).
O Ministério das Relações Exteriores, por meio da embaixada do Brasil em Pequim, tem mantido negociações com o Governo da China. Outros ministros do Governo Federal têm conversado com o Embaixador Yang Wanming.
No dia de hoje, foi realizada com o Embaixador, uma conferência telefônica com participação dos ministros da Saúde, da Agricultura e das Comunicações.
Ressalta-se que o Governo Federal é o único interlocutor oficial com o governo chinês.