Em reação ao pedido da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e mais dados sobre a vacina CoronaVac, o governador de São Paulo, João Doria, pediu "senso de urgência" ao órgão federal. O apelo de Doria foi publicado em suas redes sociais na manhã deste domingo (10). No sábado, a Anvisa comunicou ter verificado a ausência de “dados necessários à avaliação da autorização de uso emergencial" do imunizante. O pedido para liberação da vacina havia sido protocolado na véspera pelo Instituto Butantan.
Para Doria, "ritos da ciência devem ser respeitados, mas devemos lembrar que o Brasil perde cerca de mil vidas por dia para a covid-19". Com a liberação da Anvisa, milhões de vacinas que já estão prontas poderão salvar vidas", argumentou o governador. Ao mesmo tempo em que solicitou mais informações ao Butantan, a Anvisa informou que estavam completos os dados fornecidos pela Fiocruz, cujo pedido emergencial para uso da vacina de Oxford também foi apresentado na sexta-feira.
O governo de São Paulo necessita de autorização da Anvisa para pôr em curso o plano local de imunização, cuja data inaugural está marcada daqui a duas semanas, em 25 de janeiro. De acordo com as autoridades estaduais, há 10,8 milhões de doses da CoronaVac prontas para uso.
Em nota, o Butantan afirma que “o fato de a Anvisa solicitar mais informações não afeta o prazo previsto para autorização de uso do imunobiológico". Segundo o instituto, "os pedidos de novos documentos ou mais informações são absolutamente comuns em processos como esses".
Adversários políticos, Doria e o presidente Jair Bolsonaro passaram o último ano trocando provocações sobre ações de enfretamento à pandemia. Dos dois lados há acusações sobre exploração política da doença e de eventuais medicamentos ou vacina usados no tratamento. Na quinta-feira, ao anunciar uma taxa de eficácia de 78% da CoronaVac, Doria já havia cobrado a Anvisa para não se submeter a eventuais "pressões de ordem ideológica".
No comunicado emitido sábado, a Anvisa indicou que faltou apresentar na documentação do Butantan informações sobre características demográficas da população do estudo, dados sobre os números exatos sobre voluntários e a listagem de participantes com desvios de protocolo, entre outros subsídios.
Essas informações seriam cruciais para permitir comparação entre grupos tratados, como os resultados obtidos por idade, sexo, raça, peso, índice de massa corporal, além de doenças pré-existentes dos participantes. De acordo com a Anvisa, os dados requisitados dizem respeito aos dois grupos, o que recebeu a vacina e o que recebeu placebo.
O Butantan participou de duas reuniões com a agência no sábado e, em nota, diz estar " à disposição para o fornecimento de todos os dados complementares solicitados". Na quinta-feira, especialistas já haviam criticado a ausência de dados sobre a CoronaVac durante a solenidade de anúncio da taxa de eficácia da vacina. Há dúvidas inclusive sobre a taxa de 78% de eficácia. Para alguns especialistas, o índice real seria de 63%. Em resposta às críticas, a direção do Butantan disse que os dados completos seriam enviados à Anvisa no momento de pedido de uso emergencial.