Com a participação do médico Drauzio Varella, o programa Timeline, da Rádio Gaúcha, conversou nesta sexta-feira (22) com um dos diretores da farmacêutica União Química, responsável pela produção da vacina Sputnik na América Latina. Rogério Rosso confirmou a fabricação do Insumo Farmacêutico Ativo (IFA), o princípio ativo do imunizante, em território brasileiro e detalhou os planos para o imunizante no Brasil — ainda sem aval para uso da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
— No Brasil, submetemos à Anvisa em 29 de dezembro o dossiê de desenvolvimento clínico para a fase 3, aguardamos a solicitação. Temos nove fábricas no Brasil, uma delas de biotecnologia. Nesta, iniciamos ontem a produção inicial do IFA — explicou Rosso.
— O senhor (Drauzio) conhece como é o processo de um produto biológico. A produção do IFA demora de duas a quatro semanas a depender do adenovírus. Esperamos entrar com a produção e envasamento no mês de março — completou, em resposta ao médico.
A notícia da produção do IFA da Sputnik no Brasil chega em um cenário de escassez da matéria-prima para a continuidade na vacinação no país. Hoje, não há doses suficientes de IFA para o Instituto Butantan produzir CoronaVac e para a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) produzir a vacina de Oxford/AstraZeneca, apostas do governo na imunização. O governo federal se apressa, no momento, para importar esses ingredientes da China.
A empresa União Química, no entanto, teve devolvido pela Anvisa o pedido de uso emergencial da vacina Sputnik V no Brasil. Na semana passada, a farmacêutica protocolou um pedido para a utilização de 10 milhões de doses no país — quantidade que a empresa pretende distribuir ainda no primeiro trimestre deste ano, mas a Anvisa rejeitou, alegando que o documento não cumpria "requisitos mínimos" para a aplicação emergencial das doses no Brasil.
Por requisitos mínimos, a Anvisa apontou a falta de dados sobre a última etapa do ensaio clínico, a fase 3. Até o momento, apenas resultados das fases 1 e 2 da Sputnik V foram publicados em periódico científico. Indagado sobre a decisão da Rússia de autorizar o imunizante, seguido pela Argentina e Emirados Árabes, Rosso exaltou o trabalho do Instituto Gamaleya, que desenvolve a vacina:
— Eu teria feito o mesmo (se fosse a Rússia). Imagina que você está num avião caindo e os paraquedas não foram autorizados pelo Inmetro, você usaria ou não? Ela fez isso (autorizou) com a garantia de um instituto que tem 130 anos no desenvolvimento de vacinas e com absoluta convicção.
A Anvisa realizará mais uma reunião com os representantes da Sputnik ainda nesta sexta-feira. A expectativa é de esclarecimento de dúvidas no encaminhamento do uso emergencial no Brasil.