A vacina contra covid-19 desenvolvida pela AstraZeneca em parceria com a Universidade de Oxford deve começar a ser administrada já na próxima segunda-feira (4) no Reino Unido, onde obteve aprovação para o uso. No Brasil, a informação mais recente é de que a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), parceira no desenvolvimento das doses, já está em processo para submeter o registro junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) com previsão de entrega final de documentos à agência em meados de janeiro. A informação foi dada pela presidente da instituição, Nísia Trindade, e publicada no G1.
Embora a chamada vacina de Oxford seja a única a ter acordo firmado com o governo federal e seja a principal aposta brasileira para seu plano nacional de imunização contra o coronavírus, a autorização no Reino Unido não deve ter influência em uma aprovação mais rápida da Anvisa, acredita Luiz Gustavo de Almeida, PhD em Microbiologia pelo Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP) e coordenador dos projetos educacionais do Instituto Questão de Ciência. Segundo ele, a julgar pelos obstáculos impostos ao imunizante da Pfizer, uma liberação no Exterior não garante a agilidade aqui.
— A vacina da Pfizer, que já foi aprovada em Estados Unidos, Canadá e Europa, está com alguns entraves na Anvisa que a gente vê que é uma burocracia. Alguns detalhes que a empresa não consegue entregar nesse momento. Estão exigindo coisas que nenhuma outra agência está, então, ficamos com o pé atrás. Espero que tenha rapidez maior com o imunizante de Oxford, pois era o previsto pelo governo federal — diz.
Nesta terça-feira, a Anvisa mudou parte do processo de submissão de pedido de uso emergencial após a Pfizer dizer que não faria o pedido. Com isso, tornou o pedido mais ágil.
Almeida também destaca que ficar discutindo eficácia ou qual vacina será usada não adianta em nada se a população não for efetivamente imunizada. E pelo tamanho do Brasil, apesar da larga experiência em programas de vacinação, o desafio é enorme. Ainda mais depois do fracasso na compra de seringas e agulhas para a campanha contra covid-19.
— Oxford e CoronaVac são as vacinas que serão do Brasil, pois se adequam melhor a logística que já temos, inclusive no imunizante da gripe. Elas se encaixam muito bem para nossa realidade, mas precisa ter o resto das coisas. Vimos que foram comprados 3% dos insumos. Não adianta nada a gente ter uma vacina aprovada e não conseguir aplicar. As vacinas só vão funcionar nas pessoas, dentro dos freezers elas não vão servir para nada — observa o microbiologista.
Já o presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Juarez Cunha, acredita que a autorização no Exterior possa acelerar os trâmites por aqui. Ele diz que um dos critérios para a liberação da Anvisa é justamente a aprovação no país de origem do fármaco.
— Com certeza facilita muito. Ter a aprovação do Reino Unido é uma grande coisa. Mas o principal é que temos duas vacinas que são apostas aqui: a de Oxford, pelo governo federal, e a CoronaVac, pelo Estado de São Paulo. Toda notícia que vier delas é boa, pois são as que temos mais possibilidade de conseguir vacinar um maior número de pessoas — avalia.
Eficácia não deve ser impasse
O regime aprovado no Reino Unido foi o de duas doses do imunizante. Nesta quarta-feira (30), foi divulgada uma nova análise de dados sobre a eficácia da vacina de Oxford, revelando ser de 70% apenas com a primeira dose e 21 dias depois. Quando a segunda dose é aplicada 12 semanas após a primeira, esse número sobe para 80%. Já a vacina da Pfizer, mostrou eficácia de 95%. Para a Anvisa, é preciso uma eficácia mínima de 50% para efetivar a autorização. Percentuais abaixo de 90%, no entanto, não devem gerar preocupação da população, garante Almeida.
— Isso não é ruim. Uma vacina de 62% (eficácia prévia de Oxford) aplicada em grande parcela das pessoas vai prevenir a doença e a quadros graves, foi o que Oxford mostrou. Não tem que pensar “minha eficácia é maior ou menor”. Passou de 50% e teve boa aplicação na população, então, está excelente para o momento em que a gente está vivendo — diz Cunha.