Em meio à segunda onda da pandemia, um cenário preocupante se desenha no Rio Grande do Sul: a aproximação do esgotamento hospitalar. Em novembro, o número de leitos livres de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) é o menor desde o inverno e cai quase diariamente, mostram dados da Secretaria Estadual da Saúde (SES).
O Rio Grande do Sul tem 2.538 leitos de UTI para atender qualquer caso grave e urgente. Em novembro, a ocupação por pacientes com casos suspeitos de coronavírus ou com outras doenças se mantém estável, mas sobe a demanda por quem está diagnosticado com covid-19. Na terça-feira (1º), 807 pessoas com coronavírus estavam internadas em leitos de UTI – 23% a mais do que duas semanas atrás.
No modelo de distanciamento controlado, o Palácio Piratini analisa 11 indicadores da pandemia – envolvendo a propagação do vírus, a projeção das mortes, o uso do sistema hospitalar gaúcho e a variação da ocupação ao longo do tempo. Um deles é justamente o número de leitos livres de UTI em relação ao total de vagas ocupadas por pessoas com coronavírus.
A criação desse indicador teve o objetivo de antever o colapso do sistema hospitalar e considerar como está o uso dos leitos. Ter mais vagas livres oferece margem de manobra para abrir uma vaga a um paciente em caso grave que necessite de internação urgente.
— Isso dá ideia da capacidade do sistema de conseguir absorver outras internações e auxilia para verificar o quanto o sistema hospitalar consegue responder a uma possível demanda maior — observa a professora do mestrado em Virologia da Feevale Juliane Fleck.
Para chegar ao resultado, é preciso dividir o total de leitos de UTI livres pelas vagas de internação ocupadas por pacientes com coronavírus. Quando o resultado está acima de 1, há mais leitos livres do que ocupados por covid-19. Quando fica abaixo de 1, recebe bandeira preta porque o sistema hospitalar caminha para entrar em colapso.
No pior momento da pandemia, em agosto, havia 0,79 leito de UTI livre para cada leito ocupado por um paciente com coronavírus no Estado. Na última terça-feira, o cenário era pior: alcançara 0,62. No melhor momento da pandemia após o pico, em 2 de novembro, o indicador chegou a 1,45.
Em boletim resumido divulgado nesta quarta-feira (2), as regiões Metropolitana, Missioneira, Norte, Serra, Sul, Vales e Centro-Oeste estavam abaixo de 1 – receberiam, portanto, bandeira preta.
O pior cenário é na Região Metropolitana, onde há 0,54 leito de UTI livre para cada pessoa internada por coronavírus.
— Quando era acima de 1, significava que havia mais leitos livres do que pacientes internados por covid. Essa relação se inverteu e vem caindo, o que significa que está esgotando o total de leitos disponíveis no Estado — afirma o médico e professor de Infectologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Alexandre Zavascki.
Indicador de leitos livres para cada leito ocupado por covid-19 em regiões do RS nesta terça-feira:
- Sul: 1
- Norte: 0,79
- Vales: 0,75
- Missioneira: 0,66
- Centro-Oeste: 0,63
- Serra: 0,63
- Metropolitana: 0,54
Como é feito o cálculo:
Leitos de UTI livres/Leitos de UTI ocupados por pacientes com coronavírus