A piora nos índices que mostram o impacto da pandemia em Porto Alegre deve levar a prefeitura a retomar restrições econômicas para frear transmissão do coronavírus, em anúncio esperado para esta sexta-feira (27). Ainda não foram definidos os detalhes, mas a ideia é restringir o mínimo possível, desde que as medidas escolhidas tenham um impacto relevante na circulação de pessoas. Provavelmente, será reduzido o horário de funcionamento sobretudo de bares e restaurantes, como adiantou a colunista Giane Guerra.
O recuo na liberação é consequência da intensificação da transmissão de covid-19 na Capital. Porto Alegre está entre as sete capitais com taxas de ocupação de leitos de UTI covid-19 para adultos superiores a 80%, segundo o Boletim Fiocruz Observatório Covid-19 divulgado na quinta-feira (26). O levantamento traz dados gerais sobre a pandemia no país relativos à semana epidemiológica de 8 a 21 de novembro.
A média diária de internações por covid-19 em unidades de terapia intensiva (UTI) de Porto Alegre é a maior em sete semanas. Nos últimos sete dias, ficou em 244,71 pacientes, alta de 4,38% em relação à igual período anterior.
Em nota, a Fiocruz ressalta que o foco tem sido "o monitoramento do indicador agregado nos Estados e Distrito Federal" para taxas de ocupação de leitos adultos de UTI para covid-19, mas que chama atenção no período os índices para sete capitais. Entre estas, Porto Alegre tem a quarta maior taxa, com 88,7%, ficando atrás apenas de Macapá (92,2%), Vitória (91,5%) e Curitiba (90%).
A taxa geral de ocupação, incluindo outros motivos além do coronavírus, está em 91,95%. São 697 pacientes para 782 leitos, sendo que há 24 bloqueados momentaneamente. Significa que há apenas 61 leitos de UTI livres no momento na Capital.
Com o aumento no número de casos confirmados de covid-19 nos últimos dias, hospitais de Porto Alegre reativaram leitos destinados a pacientes com coronavírus em suas estruturas. Do início de novembro até agora, 51 vagas foram reabertas nas instituições de saúde da Capital.
Só no Hospital de Clínicas, 11 leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) foram recolocados à disposição — três na semana passada e oito na quarta-feira (25). Com isso, o Clínicas conta com 66 vagas exclusivas para pacientes com quadro grave da doença. No ápice da pandemia, em agosto, o número de leitos chegou a 105.
No Hospital Nossa Senhora da Conceição, 20 leitos de enfermaria foram reativados na semana passada. Ao todo, são 48 leitos e mais 12 reservados a casos suspeitos. Na UTI Covid, são 29 vagas, sendo que, nesta quinta-feira (26), 27 estavam ocupados.
Além desses, o Hospital Vila Nova, localizado na zona sul da Capital, inaugurou 20 leitos de UTI na última segunda-feira (23), todos exclusivos a pacientes com coronavírus. A nova ala foi construída em 180 dias com o repasse de R$ 6 milhões de verba pública. Segundo a instituição, os leitos já estão ativos.
As medidas foram tomadas pelas instituições em parceria com a Secretaria Municipal da Saúde (SMS), que está monitorando o aumento de casos da doença na Capital.
Especialistas rechaçam a ideia de uma segunda onda de contágio porque o fenômeno é tipicamente europeu: o lockdown impôs uma queda acentuada nas infecções, enquanto que, aqui, manter atividades estabilizou a epidemia em patamares altos de transmissão. Preferem, no lugar, falar de uma piora da primeira onda após a flexibilização de atividades.