No dia seguinte ao anúncio da intenção de compra de 46 milhões de doses da vacina desenvolvida pela chinesa Sinovac e estudada em parceria com o Instituto Butantan, de São Paulo — pesquisa da qual participa o Hospital São Lucas da PUCRS —, o Ministério da Saúde voltou atrás e afirmou que "não há intenção de compra de vacinas chinesas". Um dos argumentos usados pela pasta é que, até o momento, o imunizante não foi aprovado.
Na última segunda-feira (19), o diretor do Butantan, Dimas Covas, exaltou os resultados promissores no que diz respeito à segurança da vacina.
— A vacina Butantan é a mais segura em termos de efeitos colaterais. É a vacina mais segura neste momento não só no Brasil, mas no mundo — disse, acrescentando que os dados sobre a eficácia ainda precisam de análise.
Abaixo, reunimos algumas informações sobre o imunizante.
O que sabemos sobre a vacina?
A vacina é formada pelo vírus inativado para inoculação em humanos. Com duas doses, o sistema imunológico passaria a produzir anticorpos.
Foram realizados testes no país chinês da fase 1, com 144 voluntários, e 2, com 600 voluntários. A fase 3 é conduzida no Brasil pelo Butantan. Nessa fase, a pesquisa também conta com a participação da Turquia e da Indonésia.
Quais são os resultados que ela demonstrou?
Conforme Covas, a vacina Sinovac teve sua segurança atestada. Isso porque apenas 35% dos voluntários dos testes da vacina chinesa contra o coronavírus tiveram reações adversas após a aplicação, e foram efeitos leves, como dor no local da aplicação ou de cabeça. Não houve qualquer registro de efeito colateral grave durante a testagem.
— A vacina Butantan é a mais segura em termos de efeitos colaterais. Das demais vacinas, nenhuma foi inferior a 70%. Todas, exceto a vacina Butantan, tiveram efeitos colaterais grau 3, que são os mais importantes quando se avalia uma vacina — falou, na segunda.
Esses foram os primeiros resultados apontados pelo estudo brasileiro.
O que se sabe sobre eficácia?
Covas explicou que, para que se possa fazer uma análise preliminar da eficácia do imunizante, é preciso que 61 participantes do estudo testem positivo para covid-19.
— Como o estudo é duplo cego e controlado por um organismo internacional, eles avaliam diariamente os casos remetidos para lá. Esse comitê abrirá o estudo quando atingirmos os 61 casos — falou.
Se essas pessoas fizerem parte do grupo que recebeu placebo, pode-se concluir que a vacina é eficaz.
Há um prazo?
Como o registro da vacina depende da sua eficácia comprovada, é preciso, antes, atingir esse número de 61 voluntários infectados.
— É possível que tenhamos esse número muito rapidamente em razão do público que trabalhamos, os profissionais da saúde. No entanto, esse é um evento que nós não controlamos. Como a incidência da doença no Brasil está caindo, é possível que isso tenha algum efeito na velocidade com que esses casos (os 61) apareçam.
Após o atingimento desse número, um dossiê será encaminhado para a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que procederá com a análise dos dados.