Um grupo formado por mais de 70 pesquisadores brasileiros escreveu um artigo indicando que o coronavírus age no cérebro humano, provocando a morte de neurônios nos pacientes graves ou moderados e também nos considerados leves, que não precisaram de tratamento hospitalar na fase aguda da covid-19.
Segundo reportagem do site G1, Os resultados do estudo estão em artigo publicado em versão pré-print na plataforma medRxiv e segue em avaliação por uma revista científica internacional. De acordo com os pesquisadores, duas grandes descobertas em relação ao mecanismo de ação do vírus foram apresentadas: quando o Sars-CoV-2 entra no cérebro, ataca uma espécie de célula de apoio responsável pelos processos metabólicos, dificultando a produção de energia e a nutrição dos neurônios e, consequentemente, podendo levar à morte do tecido cerebral.
A presença do vírus foi confirmada nas 26 amostras estudadas, coletadas por meio de autópsia minimamente invasiva realizada em pacientes que morreram por causa da covid-19. O estudo também traz mais indícios de que a via de acesso para o cérebro é o nariz. Em outro braço da pesquisa, a análise de imagens de ressonância magnética em pacientes leves que não tinham precisado ainda de hospitalização demonstraram uma redução importante do córtex cerebral próxima às vias aéreas, chamada de região orbitofrontal, comprovando que se tratam de alterações da estrutura cerebral.
Algumas pesquisas já haviam demonstrado a presença do coronavírus no cérebro, mas desta vez os experimentos comprovaram a infecção e replicação nos astrócitos. A descoberta também é importante porque pode mudar o tipo de tratamento que os pacientes estão recebendo. Uma das perguntas que precisam ser respondidas é como o vírus chega ao sistema nervoso central e qual é o mecanismo de ação para entrar nos astrócitos.
O estudo, que teve financiamento da Fapesp, foi coordenado pelos pesquisadores Clarissa Lin Yasuda, Daniel Martins-de-Souza e Marcelo Mori, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), e Thiago Cunha, da Universidade de São Paulo (USP). Também participaram representantes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), do Laboratório Nacional de Biociências (LNBio) e do Instituto D’Or.
Clarissa afirma que há suspeita de que o vírus possa ativar doenças genéticas como esquizofrenia, Parkinson e Alzheimer.
Até agora, os cientistas não tinham certeza se o vírus estava mesmo dentro das células do cérebro ou se os sintomas eram causados por outros problemas trazidos pela doença. No entanto, os estudos mostraram o vírus agindo em células cerebrais. Embora a maior parte dos pacientes com covid-19 apresente sintomas pulmonares, como pneumonia e falta de ar, cerca de 30% dos infectados acabam manifestando sintomas neurológicos ou psiquiátricos.
Os resultados:
- Foram observadas atrofias em áreas relacionadas, por exemplo, à ansiedade, um dos sintomas mais frequentes no grupo estudado.
- O vírus promove alterações significativas na estrutura do córtex, a região do cérebro mais rica em neurônios e responsável por funções complexas como memória, atenção, consciência e linguagem.
- O vírus infecta e se replica nos astrócitos, que são as células mais abundantes do sistema nervoso central e têm formato de estrela.