Reduzidos durante uma parte do período de pandemia no Rio Grande do Sul, aos poucos os serviços eletivos da Santa Casa de Misericórdia começam a voltar à normalidade. Na semana passada, voltaram a ser feitos os transplantes não urgentes, após quase 50 dias de interrupção em razão do avanço do coronavírus em Porto Alegre.
Desde a última quarta-feira (2), já foram realizados seis transplantes de rins, três de medula e um procedimento pediátrico de fígado. Ao mesmo tempo, voltam à normalidade outras cirurgias não emergenciais. Há pelo menos 20 dias, a Santa Casa voltou a fazer cirurgias eletivas oncológicas, cardíacas e neurológicas, por exemplo. Estas haviam sido suspensas em julho, quando houve um pico de contaminação por covid-19 na Capital.
— Mesmo com a capacidade a pleno para a realização dos procedimentos, estamos ainda com 80% da demanda que tínhamos na mesma época do ano passado — afirma o diretor médico de ensino e pesquisa da Santa Casa, Antônio Kalil.
Ele explica que muitas pessoas ainda estão receosas de frequentar o ambiente hospitalar em meio à pandemia, e prevê que o movimento volte à normalidade até outubro. Kalil afirma que, nos últimos dias, o hospital voltou a receber mais demanda de pacientes com necessidade de cirurgia oncológica, vesícula, hérnia e até de obesidade, o que demonstra uma caminhada de volta à normalidade.
Queda semelhante ocorre no ritmo de transplantes. Nos primeiros oito meses deste ano, foram realizados 328 transplantes na Santa Casa, entre urgentes e eletivos. O número é 25% inferior aos 438 feitos no mesmo período do ano passado.
Conforme José Camargo, cirurgião de transplantes e diretor médico do Hospital Dom Vicente Scherer, este é um resultado direto das medidas de distanciamento social.
— Houve uma paralisação geral da saúde, as pessoas deixaram de ir ao hospital e, em razão do menor fluxo nas ruas, também houve menos mortes encefálicas. Se por um lado a redução de mortes é algo bom, por outro reforça a necessidade de as pessoas se apresentarem aos seus familiares como doadoras — afirma Camargo.
Os procedimentos haviam sido suspensos em 16 de julho e voltaram apenas na semana passada. Os pediátricos haviam sido retomados ainda em agosto.
Gradativamente, os estagiários da área médica também voltam a frequentar o hospital. Há um mês, retornaram às atividades os doutorandos e, em setembro, alunos em estágios eletivos e de observação, que, por medida de segurança, estavam afastados desde abril. A administração do hospital afirma que tem optado por colocá-los em atividades não relacionadas à covid-19.