Uma nova vacina contra covid-19 a ser testada ao longo dos próximos meses nos hospitais Conceição e Clínicas, em Porto Alegre, obteve resultados considerados bastante promissores por especialistas em testes iniciais com animais.
O desempenho do produto desenvolvido pela farmacêutica belga Janssen, uma subsidiária da gigante americana Johnson & Johnson, foi considerado "robusto" após testes pré-clínicos realizados em macacos de acordo com um artigo científico publicado no final de julho na revista científica Nature. A conclusão é de que a imunização garantiu proteção "completa ou quase completa" contra o coronavírus nos primatas. O desempenho qualificou a imunização para a terceira e última fase de estudos clínicos com humanos, para a qual as duas instituições da Capital foram selecionadas entre 178 estabelecimentos em diferentes países.
A vacina da Janssen é a quarta a entrar na fase mais adiantada de avaliação no Brasil e a segunda em Porto Alegre — a primeira foi a chinesa Sinovac, em agosto, em parceria com o Hospital São Lucas da PUCRS. Conforme o artigo científico publicado pela Nature, sete diferentes versões do produto belga foram aplicadas em macacos, e uma delas alcançou os melhores resultados. Dos seis primatas que receberam uma única injeção, nenhum apresentou o vírus nos pulmões após ser exposto à covid-19, e em apenas um foram encontrados níveis "muito baixos" de coronavírus nas vias aéreas superiores.
— Ficamos empolgados ao ver esses dados pré-clínicos porque mostram que nossa candidata à vacina contra o SARS-CoV-2 gerou uma forte resposta de anticorpos e promoveu proteção com uma única dose — afirmou o diretor científico da Johnson & Johnson, Paul Stoffels, logo após a divulgação dos resultados iniciais.
Depois disso, foram iniciadas fases 1 e 2 que incluem testes em humanos em países como Estados Unidos, Bélgica e Espanha. Os testes da fase 3 a serem realizados no Clínicas e no Conceição preveem a aplicação de duas doses, como forma de confirmar se apenas uma é de fato suficiente ou se é necessária outra, a um número maior de voluntários.
A farmacêutica não impôs regras detalhadas sobre o perfil de quem pode participar. O Conceição, por exemplo, optou por admitir qualquer pessoa em vez de limitar a imunização apenas a profissionais de saúde, critério adotado por outras iniciativas. O estudo deverá reunir 2 mil participantes apenas nesse hospital. Para isso, será utilizada em três turnos uma tenda montada para receber pacientes com sintomas compatíveis com coronavírus, mas que nas últimas semanas vem apresentando baixo movimento.
— Já temos toda a infraestrutura montada, pessoal contratado, equipamento à disposição. Assim que o comitê de ética do hospital autorizar, receberemos as doses e poderemos começar — afirma o infectologista e coordenador da pesquisa no Conceição, Breno Santos.
O diretor técnico do Grupo Hospital Conceição, Francisco Paz, revela que isso poderá se confirmar na semana que vem:
— A próxima reunião do comitê será na quarta-feira, dia 16. Se a tramitação dos documentos pertinentes for agilizada, é possível que na próxima semana já tenhamos uma posição.
A aplicação vai ocorrer em quatro fases: uma para pessoas sadias entre 18 e 59 anos, outra para pessoas dessa faixa etária com comorbidades (problemas como obesidade, diabetes ou hipertensão, por exemplo), uma terceira para sadios com 60 anos ou mais e a última para idosos com comorbidades. Informações podem ser obtidas pelo telefone (51) 3341-5316.
Expectativa de doses emergenciais em 2021
O estudo completo deverá durar dois anos, mas, se tudo seguir correndo como o esperado, a Johnson informou que espera produzir doses de forma "emergencial" já a partir do ano que vem.
Até o final do ano que vem, poderiam ser fornecidas cerca de 1 bilhão de doses do produto, segundo informaram executivos ligados à companhia no mês passado.
Por meio de nota enviada pela assessoria de comunicação, o Hospital de Clínicas informou que "o projeto tramita no Comitê de Ética em Pesquisa do HCPA. Após esta fase, alinhado ao laboratório responsável pela pesquisa, e em respeito às cláusulas de confidencialidade do estudo, o HCPA comunicará novas informações relativas a quem poderá se voluntariar, cronograma de ações e total de participantes."
Atualmente, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), há 35 fórmulas de vacina contra a covid-19 em ensaios clínicos no mundo inteiro. Destas, nove estão na fase mais avançada de avaliação.