Uma sugestão de tratamento para a covid-19 feita pelo prefeito de Itajaí (SC), Volnei Morastoni (MDB), não encontra qualquer respaldo científico. O político, que é médico, com pós-graduação em Pediatria e em Saúde Pública, disse, durante uma transmissão ao vivo pelo Facebook na noite de segunda-feira (3), que o município catarinense foi inscrito para integrar um protocolo de pesquisa sobre a ozonioterapia, e que o tratamento consistiria na aplicação de ozônio, pelo ânus, em casos que tiveram diagnóstico positivo nos testes de coronavírus.
— Além da ivermectina, da azitromicina, da cânfora, nós também vamos oferecer o ozônio — afirmou o prefeito, elencando medicamentos sem qualquer eficácia comprovada no combate à covid-19. — É uma aplicação simples, rápida, de dois minutos, com um cateter fininho, e isso dá um resultado excelente — complementou Morastoni, sem apresentar estudos que comprovassem sua afirmação.
O infectologista Claudio Stadnik, da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, explica que muitas pesquisas já tentaram aferir os resultados de tratamentos utilizando a ozonioterapia, mas sua eficácia jamais foi comprovada. Conforme o médico, há muitos anos a ciência vem tentando descobrir se o ozônio tem uma potencial ação para a redução de bactérias e vírus. E o produto realmente consegue atuar na redução de bactérias e vírus, segundo Stadnik, mas apenas in vitro, ou seja, em laboratório.
— Toda vez que se tentou usar (o ozônio) de maneira prática, nunca funcionou — descreve o infectologista.
Quanto à sugestão do prefeito de Itajaí de que a aplicação de ozônio por meio do ânus poderia ser eficaz contra o coronavírus, Stadnik demonstra incredulidade.
— Não tem absolutamente nada evidenciado (sobre a ozonioterapia no tratamento da covid-19). É uma insensatez recomendar isso a um paciente, e ainda muito mais insensatez recomendar isso em nível público — diz o médico.
Morastoni disse, durante a transmissão ao vivo, que inscreveu o município na Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), vinculada ao Ministério da Saúde, para integrar um protocolo de pesquisa sobre o uso do ozônio. Mas o próprio ministério, em nota técnica divulgada em abril e intitulada "Utilização do gás ozônio e da ozonioterapia no combate à disseminação da covid-19 submetidas pela Sociedade Brasileira de Ozonioterapia Médica (Sobom)", descreveu a falta de comprovação sobre a técnica.
"O ozônio é eficaz na inativação in vitro de uma série de micro-organismos, incluindo bactérias e vírus patogênicos de importância em infecção hospitalar, mas a utilização como procedimento preferencial na desinfecção ou esterilização de ambientes ou áreas hospitalares não está bem estabelecida. Há outros procedimentos que são preferencialmente recomendados por autoridades de saúde com essa finalidade. O efeito da ozonioterapia em humanos infectados por coronavírus (Sars-Cov-2) é desconhecido e não deve ser recomendado como prática clínica ou fora do contexto de estudos clínicos."