Um conjunto de indicadores sugere uma desaceleração nas internações e mortes por covid-19 em Porto Alegre e na Região Metropolitana ao longo da última semana, mas ainda não é possível apontar uma estabilização da pandemia.
A quantidade de óbitos e de pacientes graves está aumentando em ritmo mais vagaroso em relação ao começo do mês. O problema é que ainda sobe: a média diária de mortes cresceu 5% na Capital e 14,5% na área metropolitana nos últimos sete dias em comparação com o período anterior. Já a média de pessoas em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) avançou, no mesmo período, 9,4% e 5,7%, respectivamente.
O aspecto positivo é que o cenário é menos grave do que na semana anterior, quando a média diária de mortes por coronavírus havia saltado 23% na Capital e 26% em toda a região. Na quinta-feira (30), os dados disponíveis até aquele momento chegavam a indicar uma pequena redução nos novos óbitos registrados a cada dia em Porto Alegre, mas notificações posteriores feitas pelos hospitais incluíram vítimas que ainda não haviam sido contabilizadas e tornaram a fazer a curva subir.
Embora as internações em alas de tratamento intensivo ainda não deem sinais de recuo, pelo menos a velocidade de expansão do coronavírus também se reduziu. Na Capital, o ritmo de avanço caiu pela metade — a média de pacientes internados havia subido 20% na semana anterior, acréscimo que ficou em cerca de 9% nos últimos sete dias. Mas não há como atestar que essa desaceleração é uma tendência permanente ou que se avizinha uma estabilização.
— Em relação às UTIs, é preciso esperar no mínimo uma semana para ter certeza de uma estabilização — avalia o secretário-adjunto da Saúde da Capital, Natan Katz.
Nesta sexta (31), completaram-se cinco dias em que as hospitalizações oscilam pouco acima de 300, depois de terem atingido a cifra recorde de 316 no domingo (26). Entre quinta e sexta-feira, variaram de 304 para 307 até as 17h. O infectologista e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Alexandre Zavascki é cauteloso:
— Há alguns indícios de desaceleração, mas que podem ser revertidos em seguida. O melhor é esperar entre duas semanas e um mês para poder falar em tendência. Uma pessoa que adoece hoje pode levar perto de duas semanas para internar em UTI, e lá pode morrer em alguns dias ou semanas depois.
Doutor em matemática e professor da UFRGS que vem monitorando os passos da pandemia, Álvaro Kruger Ramos prefere nem falar em desaceleração da pandemia pelo fato de o número de mortes seguir se acumulando em patamares elevados.
— Em apenas uma semana o total de mortes cresceu mais de 20%. Ainda é um percentual muito alto — analisa Ramos.
Nos últimos sete dias até a quinta-feira (30), data mais recente com dados divulgados até o fechamento desta reportagem, o acumulado de óbitos havia subido 25% e chegado a 335 em Porto Alegre.
Mas há também indicadores positivos, que aumentam a possibilidade de a desaceleração se confirmar nas próximas semanas: a quantidade de pacientes internados em leitos fora de UTI — e que podem acabar nas unidades de terapia intensiva em caso de agravamento da condição de saúde — recuou nos últimos dias.
Na Capital, os doentes com covid em leitos de enfermaria se reduziram de 405 para 316 nos últimos sete dias, em uma queda de 22%. Na Região Metropolitana, esse número variou de 614 para 579, somando 5,7% a menos.
— Internações em UTI e em enfermarias indicam uma estabilização, mas é preciso esperar mais tempo — avalia Natan Katz.