Referência para 45 hospitais de Porto Alegre, Região Metropolitana e Litoral Norte, o Hemocentro do Estado (Hemorgs) enfrenta um momento considerado “crítico” nos estoques de sangue. De acordo com Kátia Brodt, coordenadora-adjunta do espaço localizado no bairro Partenon, zona leste da Capital, a chegada do frio intenso se somou ao distanciamento social imposto pela pandemia de coronavírus, reduzindo em 60% o número de candidatos que procuram o local.
Dos cerca de 1,6 mil doadores que frequentavam o centro de coleta mensalmente, pouco mais de 600 seguem no voluntariado. O medo de se contaminar no posto, segundo Kátia, não se justifica — não há nenhum caso positivo para covid-19 entre os servidores.
— Aqui temos pessoas saudáveis, ninguém pode acessar com comorbidades, e todos tem a hemoglobina medida e passam ainda por entrevista — argumenta.
No início da pandemia, os índices estavam semelhantes aos de agora, segundo a coordenadora-adjunta. Uma campanha angariou voluntários das Forças Armadas, mas com o intervalo obrigatório para a mesma pessoa doar novamente — 60 dias para homens e 90 dias para mulheres —, as câmaras refrigeradas voltaram a ficar vazias. O período é necessário para o corpo repor o sangue sem prejuízo ao doador.
No Hemocentro, é obrigatório o acesso de máscara e há tubos de álcool gel espalhados pelo prédio. A higienização em todos os ambientes também foi reforçada. As poltronas da sala de espera foram interditadas para evitar a permanência no local fechado. Com ajuda do Exército, uma tenda foi montada no pátio, com cadeiras disponíveis. Não havia, porém, nenhum doador utilizando a estrutura na manhã desta quarta-feira (15).
Já agendados através do telefone (51) 3336-6755 – ramal 102, um grupo de voluntários de Esteio foi atendido, de maneira ágil, às 10h. Mais experiente do grupo, Eliane Terezinha Silva da Silva, 61 anos, calcula ser doadora frequente há pelo menos 30 anos.
— Quantas vidas a gente pode salvar, né? Faz bem para a gente também. Cada um fazendo a sua parte, o mundo seria bem melhor — diz a doadora.
Os agendamentos também podem ser feitos pelo e-mail hemorgs@saude.rs.gov.br. Após o primeiro chamado, os pacientes fazem um exame para uma primeira triagem. Há, ainda, uma entrevista antes da doação, processo que não demora mais do que 40 minutos, em dias de baixo movimento, segundo a responsável pelo atendimento ao doador, Sandra Garcia Bueno, 57 anos. Há quase duas décadas no Hemocentro, ela responde com ênfase a pergunta sobre qual tipo sanguíneo é o mais necessário:
— Qualquer tipo. Olha para as gavetas, pode escolher a mais vazia.
Em todo o Estado, há outras sete regionais, que distribuem as bolsas de sangue a instituições no Interior. A coordenadora-adjunta da unidade da Capital afirma que o estoque de municípios como Pelotas, Santa Maria, Passo Fundo e Caxias do Sul “está tão baixo quanto” o de Porto Alegre, reforçando o pedido por uma mobilização. Contatados pela reportagem, os postos confirmaram o nível em queda.
Os bancos de sangue dos hospitais da Capital também apresentam diminuição nos estoques: cerca de 40% em relação ao necessário para atender a demanda. O Hospital de Clínicas também classifica o estoque “em níveis críticos”, assim como o Hospital Nossa Senhora da Conceição — instituição que repassa as doações a mais três hospitais. A Santa Casa de Misericórdia e o Hospital São Lucas da PUCRS necessitam da doação de todos tipos sanguíneos e plaquetas sanguínea (veja abaixo a relação de endereços).
Hemocentros já recebem doações de homossexuais
Em 15 de junho, o Ministério da Saúde orientou as secretarias estaduais a aceitarem doações de sangue de “homens que tiveram relações sexuais com outros homens”, mesmo que a relação tenha ocorrido nos últimos 12 meses.
No Rio Grande do Sul, a Secretaria Estadual da Saúde (SES) confirma que já está cumprindo a decisão e que a Coordenação Geral do Sangue repassou orientações para os hemocentros do Estado. A decisão abrange homens gays, bissexuais, travestis e mulheres transexuais.
A restrição à doação de sangue foi declarada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no mês passado, em julgamento no plenário virtual da Corte. Mesmo assim, hemocentros de todo o país ainda rejeitavam a coleta — o argumento era uma orientação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), emitida em ofício de 14 de maio. Os Estados deveriam aguardar o "encerramento definitivo" do caso. Integrantes do STF, entretanto, consideram que a decisão já é válida desde a publicação da ata do julgamento, em 22 de maio, conforme a jurisprudência da Corte.
A nova orientação do Ministério da Saúde foi tomada após cinco entidades LGBT+ e o partido Cidadania acionarem o STF para exigir o fim imediato das restrições.
Contatos e endereços de hospitais da Capital
- Hospital Conceição — Avenida Francisco Trein, 596, telefone (51) 3357-2072
- Hospital de Clínicas de Porto Alegre — Rua Ramiro Barcelos, 2350. O agendamento da doação pode ser feito neste site
- Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre — Avenida Independência, 75, telefone (51) 3214-8025
- Hospital São Lucas da PUCRS — Avenida Ipiranga, 6690, telefone (51) 3320-3455 ou WhatsApp (51) 98503-9958