Quem lida diretamente com pacientes com covid-19 no Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) tem vivido dias intensos. Em alguns momentos, a emoção aflora pelo outro, pela solidão vivida pela pessoa internada que se vê distante da família. Contudo, há também a comoção pela mudança na própria rotina devido aos cuidados que esses profissionais precisam ter ao voltarem para casa.
Karina Azzolin, professora assistente do Serviço de Enfermagem em Terapia Intensiva, conta que se emocionou, na quarta-feira (24), quando uma paciente recém saída da intubação realizou uma chamada em vídeo com a família. A mulher não conseguia conversar, apenas gesticular, mas isso foi o suficiente para fazer a profissional se emocionar diante da situação.
— Corriam lágrimas dos olhos dela. Isso é algo novo, não estávamos acostumados a essa dinâmica. Não poder contar com a presença física da família torna isso mais difícil. Tentamos compensar essa falta que o paciente sente por meio de fotos e chamadas de vídeo. E para gente que trabalha também não é fácil. Não convivo com meu marido, não beijo o meu filho há 100 dias, porque preciso seguir o protocolo de cuidados em casa também — relatou Karina durante o programa Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha, apresentado do Centro de Tratamento Intensivo (CTI) do HCPA.
Já o técnico em enfermagem Robinson Feck comentou sobre o medo que os próprios profissionais precisam enfrentar:
— Temos casos muito graves, e é difícil. Apesar de todos os cuidados de higiene e do uso de equipamentos de proteção individual, temos receio, porque temos família também e porque já vimos colegas serem afastados — contou.
Thais Crivellaro, médica intensivista do HCPA, afirmou que a rotina exige fôlego, porque é uma unidade inteira que requer cuidados especiais, o que acarreta em sobrecarga emocional muito grande nos profissionais:
— Há um grande desejo de querer devolver esses pacientes para suas respectivas famílias, estamos todos engajados para fazer o melhor aqui dentro.
A psicóloga Rita Prieb observa que, por essa razão, a equipe do HCPA luta, constantemente, pela humanização do processo de internação. Por isso, são feitas chamadas em vídeo, álbuns de fotografias de entes queridos são deixados junto aos leitos e os crachás foram modificados: agora, a foto do funcionário está em destaque e maior para que o paciente saiba como é o rosto dos profissionais de saúde.
— Esse é um processo constante de construção, de melhorias que pensamos para tentar resgatar esse momento presencial que os pacientes tinham com suas respectivas famílias. Estamos tentando fazer de tudo para conseguir trazer a família para perto durante esse processo de internação — afirmou.