É difícil escolher o relato mais emocionante entre os que foram ao ar no Gaúcha Atualidade desta quinta-feira (25), uma edição histórica ancorada pelo colega Daniel Scola na antessala da UTI do Hospital de Clínicas, referência no atendimento de pacientes com covid-19 no Rio Grande do Sul.
O número de internados só na UTI do Clínicas hoje é equivalente ao total de pacientes internados com a doença em todos os hospitais de Porto Alegre há três semanas. Esse dado é alarmante, mas o mais importante do programa não foram os números, e sim os relatos dos profissionais que estão na linha de frente.
Histórias que vão do uso do crachá com uma foto ampliada, para que os pacientes possam identificar o homem ou a mulher que estão por trás das máscaras, salvando vidas, às fotografias da família mostradas aos pacientes quando acordam da sedação para que não se sintam tão sós.
A diretora-presidente do Clínicas, Nadine Clausell, voltou a apelar para que as pessoas fiquem em casa e deu uma informação que derruba as teorias segundo as quais a maioria dos mortos tem mais de 60 anos: a média de idade dos internados na instituição é de 59 anos. Logo, há muitos jovens em estado grave.
É o caso emocionante de uma mulher de 28 anos e que está grávida. A equipe monitora a evolução do quadro e está pronta para fazer o parto a qualquer momento, se a situação piorar. Impossível não pensar na angústia da família do lado de fora.
De Karina Azzolin, professora assistente do Serviço de Enfermagem em Terapia Intensiva, ouvimos o relato de uma rotina de privações. Ela tem um filho de quatro anos, a quem não pode abraçar desde a metade de março. Dorme em um quarto separado, tem de usar banheiro exclusivo, é uma exilada dentro de casa para proteger a família.
A médica intensivista Thais Crivellaro Butelli relatou o esforço da equipe para dar conforto emocional aos pacientes, que não podem ter contato direto com a família. E falou das dificuldades que enfrentam, muitos precisando de hemodiálise, porque o vírus também compromete o funcionamento dos rins.
Da psicóloga Rita Prieb, ouvimos relatos emocionantes da reação dos pacientes ao se reencontrarem com a vida e do cenário preparado, com fotos da família, para que ao acordar da sedação tenham a sensação de encontrar um ambiente de aconchego.
Carolina Bahia e eu acompanhamos de casa as entrevistas conduzidas por Scola e o relato de todos os cuidados tomados para não contaminar nem ser contaminado. E renovamos nossa certeza de que valeu a pena ter lutado pela ampliação do Clínicas, no início ameaçada pela intransigência de ambientalistas que não aceitavam a derrubada de árvores para a construção do prédio em que foi possível montar a UTI exclusiva para paciente covid e que agora será ampliada.