A ancoragem do programa Gaúcha Atualidade desta quinta-feira (25) foi feita diretamente do Centro de Tratamento Intensivo (CTI) do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), instituição que é um dos principais locais a receber pacientes com coronavírus no Rio Grande do Sul. Na ocasião, a diretora-presidente da entidade, Nadine Clausell, afirmou que o aumento vertiginoso no número de casos de covid-19 e de internações na Capital está intimamente ligado ao relaxamento nas regras de distanciamento social:
— Esse quadro coincide com o relaxamento das regras mais restritivas para o funcionamento do comércio e circulação de pessoas. Aqui, temos o agravante do inverno. Estamos sofrendo dois tipos de impacto e de estresse em cima do sistema de saúde. Felizmente, as obras de ampliação do clínicas ficaram prontas em abril para podermos receber esses pacientes.
Após passar por todos os processos de higienização, vestir máscara e touca e ficar a uma distância segura dos entrevistados, o jornalista Daniel Scola deu início a uma série de entrevistas com trabalhadores do HCPA para saber detalhes do cotidiano das equipes interdisciplinares no atendimento dos positivados para a covid-19. Para a realização do programa, houve autorização do comitê de crise do hospital.
Nadine destacou ainda que o gargalo para o atendimento se encontra, agora, na contratação e treinamento adequado de profissionais para lidar com a pandemia, já que com o aumento da circulação do vírus na cidade, os profissionais de saúde também acabam atingidos, saindo da linha de frente por estarem doentes ou com suspeita de covid-19.
Perfil dos doentes
De acordo com Nadine, 70 pacientes já passaram pelo CTI do Hospital de Clínicas, sendo que a média de idade destas pessoas é de 59 anos.
Dos internados, 66% deles precisaram de ventilação mecânica, e 50%, de hemodiálise, processo que realiza a filtragem e depuração de substâncias indesejáveis no sangue. O tempo médio de internação destes indivíduos é de 17 dias.
A diretora-presidente do HCPA comentou ainda sobre a capacidade de leitos que a entidade ainda tem.
— Hoje, temos 52 pacientes na UTI covid-19 para 56 leitos operacionais, ou seja, com equipe para atendê-los. A expectativa é de que, nesta sexta-feira (25), a gente consiga abrir mais cinco leitos. Isso dependerá de contratações e de pessoas que serão liberadas para o trabalho após o afastamento — disse, ressaltando ainda que toda a equipe de terapia intensiva tem estendido suas horas de trabalho para evitar furos nas escalas de trabalho:
— Tem sido um esforço sobre-humano das equipes para que seja possível abrir mais um time para atendimento de novos leitos.
"Não é gripezinha", diz diretora do Clínicas
Nadine lembrou ainda que este vírus é altamente contagioso e agressivo. Tendo em vista este cenário, ela ressaltou a importância de mantermos o distanciamento social, evitarmos aglomerações, churrascos em grupo, rodas de chimarrão e festas.
— Esse vírus não é uma gripezinha e provoca um grande comprometimento pulmonar no quarto dia, o que força o paciente ir para a intubação. Essa doença não poupa ninguém. Ela é altamente infecciosa, pode estar sofrendo mutações e provocando uma segunda onda de casos de covid-19 no hemisfério norte — afirma em tom de alerta.
Por fim, Nadine reforçou que as UTIs têm uma capacidade máxima de ocupação e que a curva não pode permanecer na vertical porque há também pessoas que precisam de leitos especiais para outros problemas que se agravam com a chegada do inverno:
— Não podemos continuar em curva ascendente. E não quero entrar na discussão de economia versus saúde, porque ela não leva a nada. Não é um contra o outro. Nós estamos aqui fazendo um papel: salvar vidas para que as pessoas possam se reintegrar na vida produtiva, social, familiar. Nós precisamos de pessoas saudáveis para reerguer este país.