A possibilidade de se ter uma vacina eficaz contra o vírus que já matou mais de 480 mil pessoas no mundo gera uma expectativa alta. Porém, é preciso calma, segundo Soraya Smaili, reitora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que participa dos estudos clínicos da vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford. Ela avalia que a "população deseja uma solução para suas vidas".
— Os estudiosos dizem que, se juntarem números positivos suficientes, pode ser que o resultado saia antes, mas isso é algo que será determinado por Oxford, e a exigência dos protocolos para o desenvolvimento de uma vacina é alta — explica. — É preciso que tenhamos o pé no chão para não criar falsas expectativas, pois não adianta correr e o resultado ser inconclusivo.
Entre os estudos de mais de 140 vacinas contra o coronavírus, a de Oxford está em um dos estágios mais avançados e se saiu bem em fases anteriores. Por isso, há expectativa de que seu resultado seja de sucesso.
Desde o último sábado, a universidade paulista iniciou a triagem de voluntários para os estudos; a aplicação da vacina começou na segunda-feira (22). Apesar de não informar números absolutos, a reitora conta que a instituição recebeu muitas mensagens de pessoas que querem participar do processo.
No início, São Paulo testaria a vacina que está na terceira fase clínica em mil pessoas, mas, a pedido da Universidade de Oxford, o número pulou para 2 mil. Os estudos foram financiados pela fundação Lemann. Outros mil serão testados no Rio de Janeiro, na rede D'or.
Os voluntários são pessoas entre 18 e 55 anos, que tenham alta exposição ao coronavírus. Por isso, a maioria dos voluntários escolhidos para esse processo são pessoas que atuam em hospitais, na linha de frente do combate à covid-19, o que inclui profissionais como médicos, enfermeiros e motoristas de ambulâncias.
Esta seleção, explica a reitora, é muito delicada, já que é preciso ter precisão no perfil dos recrutados para que o resultado seja bom. Os escolhidos passam por uma consulta e depois devem preencher um formulário com perguntas relacionadas à profissão e ao grau de exposição ao vírus.
Entre os pré-requisitos, precisam testar negativo para a covid-19. Grávidas não podem participar. Os selecionados precisam ficar disponíveis em algumas datas, que já foram marcadas, durante 12 meses para as consultas de acompanhamento. Além disso, se a pessoa ficar doente, sempre precisa comunicar aos pesquisadores.
A Unifesp também está comandando outro estudo de uma vacina brasileira que está em estágio avançado pré-clínico, ou seja, quando a dosagem ainda não foi feita em humanos. Se passar desta fase, poderá ser testada em pessoas.
Há, ainda, segundo a reitora, conversas com o Instituto Nacional Lazzaro Spallanzani, referência em doenças infecciosas na Itália, para que sejam realizados testes da vacina que tem sido desenvolvida por lá. A dose italiana está na primeira fase clínica e deve entrar na fase dois em breve.
Um dos principais motivos pelo qual farmacêuticas estrangeiras procuram o Brasil para a realização de testes das vacina reside no fato de que o vírus ainda circula com força por aqui.