Era 28 de março de 1978 quando Carlos Eugênio Azambuja Filho integrou a primeira equipe de plantão da maternidade do Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Ainda residente de ginecologia e obstetrícia, ele trabalhou ao lado de outra colega de residência sob a tutela do médico plantonista Caio Coelho Marques. Por uma coincidência do destino, às 7h30min desta segunda-feira (15), Azambuja encerra o ciclo de mais de quatro décadas do plantão do setor na instituição, que teve o fechamento anunciado em março deste ano.
Com riqueza de detalhes, o médico tem lembranças vívidas do primeiro serão. Por volta das 6h do dia 29 de março a campainha que sinalizava a chegada de uma paciente tocou. "Está aí o primeiro parto da PUCRS", pensou, enquanto caminhava ao encontro da mulher. Diante dela, verificou que a dilatação estava avançada, então, se apressou nos procedimentos.
— Internei ela, levei para a sala do parto e chamei o doutor Caio, que era o plantonista que faria o parto. Nasceu uma menina muito linda chamada Jéssica — relembra.
— Há poucos anos, ela trabalhou no Centro Clínico da PUCRS. Disse a ela que eu havia internado a mãe dela — completa.
Passados dois anos desse episódio, Azambuja concluiu a residência com uma experiência em milhares de nascimentos.
— Eram 10 partos por noite na Santa Casa, mais alguns no Beneficência Portuguesa e outros na PUCRS. Contei 2 mil de 1977 a 1980. Depois, não contei mais — diz, enquanto sugere um cálculo rápido de oito plantões por mês com uma média de cinco partos em cada um, desde 1980.
Por ter sido referência por anos para pacientes de alto risco, Azambuja presenciou toda sorte de intervenção. Para ele, no entanto, os fatos mais marcantes ainda são os partos de crianças com menos de 30 semanas de gestação.
— A maternidade da PUCRS era referência para alto risco. Em muitas pacientes tivemos que intervir ou interromper a gestação por uma patologia ou problema no bebê. Prematuros são os mais impactantes — sentencia.
Surpresa na escala
Prestes a testemunhar o fechamento da unidade, o médico e professor foi surpreendido ao ver a escala. Mais uma vez, lá estava seu nome registrado para cumprir o último plantão da maternidade.
— Foi coincidência. Fiz o primeiro plantão e vou fazer o último — fala, sem deixar de demonstrar um certo descontentamento.
— Meu sentimento é de tristeza. A gente passa uma vida inteira lá e, de repente, o hospital fecha e temos que ir para outra instituição. Era uma maternidade referência no Rio Grande do Sul e no Brasil, com uma formação de residentes altamente conceituada — lamenta.
Entre 7h30min de domingo (14) e 7h30min de segunda (15), Azambuja permanece no hospital de sobreaviso apenas para atender possíveis pacientes que ingressem na emergência, visto que o setor de internação já não recebe pacientes desde sábado (13). Por esta razão, acredita o médico, não deve ser realizado nenhum parto.
Após o encerramento das atividades, os residentes da PUCRS serão direcionados para outras instituições de saúde de Porto Alegre e Região Metropolitana.