Em meio a anúncios de flexibilização do distanciamento social, os casos graves de coronavírus crescem no interior do Rio Grande do Sul. Em apenas uma semana, o número de pessoas internadas por covid-19 em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) de fora da Capital saltou de 72, na última sexta-feira (22), para 95 nesta sexta-feira (29) — crescimento de 31%. Os dados são da Secretaria Estadual da Saúde (SES).
Também aumentou a quantidade de municípios com internações em UTIs em razão da doença. Agora, são 27 as cidades com pacientes em estado grave, quatro a mais do que no último levantamento realizado por GaúchaZH. Sem internações na semana passada, Campo Bom, Rio Grande, São Gabriel e São Leopoldo têm, todas, um caso confirmado de coronavírus em UTI. Os pacientes graves de covid-19 já ocupam 8% do total de leitos disponíveis fora de Porto Alegre — na semana passada, o número representava 6,5% dos leitos.
Quem lidera as internações em UTIs no Interior ainda é Passo Fundo, que, nos últimos dias, teve surtos de covid-19 em três lares de idosos. Agora, o município conta com 21 pacientes — 83% de taxa de ocupação dos leitos intensivos. São cinco a mais do que registrava em 22 de maio.
O aumento de casos está dentro do estimado por especialistas. Em entrevista a GaúchaZH no começo do mês, o professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Passo Fundo (UPF) e coordenador do serviço de infecção do Hospital São de Vicente de Paulo, Gilberto Barbosa projetou que a cidade teria aumento de casos por um período de 30 a 45 dias. Também no começo do mês, o município teve habilitados 13 novos leitos de UTI.
Assim como na semana passada, Bento Gonçalves se mantém atrás, com 11 internações — uma a mais do que em 22 de maio. Com apenas 13 leitos de UTI SUS e taxa de ocupação acima dos 90% dos leitos de UTI ocupados, o município da Serra já precisou buscar ajuda de outras localidades para encaminhar pacientes com quadros graves da doença. Na avaliação do secretário de Saúde Diogo Siqueira, no entanto, o quadro atual não é o pior até agora.
— O cenário atual é preocupante, mas já tivemos um número maior. Chegamos a ter 35 pacientes confirmados, entre internações clínicas e em UTI. Já encaminhamos paciente para Canoas, Santa Cruz do Sul, Caxias do Sul. Isso é normal. A descentralização dos leitos é uma das grandes vitórias do RS — avalia Siqueira, que diz que o município aguarda pela liberação de mais cinco leitos de UTI.
Referência no atendimento da região, Caxias do Sul, na Serra, já recebeu quatro pacientes de Bento Gonçalves, além de casos de Garibaldi e Carlos Barbosa. Em razão dos importados, viu o número o número de internados dobrar em uma semana. De quatro casos graves, agora conta com oito pacientes na UTI — segundo o secretário de Saúde, Jorge Olavo Castro apenas dois são de Caxias do Sul.
— Esse incremento não foi de moradores de Caxias. Se fosse só pelos casos daqui, estaríamos muito tranquilos. Teria uma folga grande de leitos de UTI — disse Castro.
Mesmo com o incremento dos casos, o titular da Saúde considera que o município tem condições de receber novos pacientes sem comprometer o sistema de saúde. No hospital de campanha, apenas nove dos 49 leitos estão ocupados. Além disso, foi aberta uma UTI com 10 leitos exclusivamente para atender casos de covid-19. Nesta sexta-feira (29), a taxa de ocupação geral dos leitos intensivos era de 72%.
Também chama a atenção a situação de Santa Maria, na Região Central. O município, que na semana passada registrava três pacientes graves, está com oito casos confirmados de covid-19 em UTIs. Um salto de mais de 160%. O secretário de Saúde, Guilherme Ribas, credita o aumento significativo à chegada do frio e ao maior número de testagens realizadas no município da Região Central.
— Foi uma semana bem fria. Quando isso acontece, aumenta a procura (pelos hospitais). Estamos monitorando os casos, mas, até agora, estamos bem. Temos, 10 leitos covid no HUSM e outros 10 no regional, e vamos ter mais de de UTI regional em Faxinal do Soturno — diz o secretário, que não descarta ampliar as medidas restritivas caso os casos continuem apresentando rápido crescimento.
Conforme a professora Terimar Moresco, que coordena o laboratório de microbiologia da Universidade Federal de Santa Maria, o clima mais frio e úmido das últimas semanas pode influenciar na disseminação do vírus. Mas acredita que o principal fator para o aumento dos casos são as medidas de flexibilização do distanciamento social.
— Cada vez que o comércio abre um pouco mais, se intensifica o número de casos. A gente acredita que quando vier o Dia dos Namorados, e as pessoas quiserem sair para comemorar, vai haver um aumento — observa.
Dos 23 municípios que registravam internações por covid-19 em UTIs na semana passada, 12 tiveram incremento nas internações nos últimos sete dias. Oito deles se mantiveram com o mesmo número de casos graves, enquanto apenas três (Estrela, Novo Hamburgo e Venâncio Aires) apresentaram redução.