O medo gerado pela pandemia de coronavírus, aliado à desinformação, está fazendo com que algumas pessoas acreditem que seus pets possam infectá-las com a covid-19. Segundo o Conselho Regional de Medicina Veterinária de SP (CRMV), cães e gatos são infectados por coronavírus, mas de um tipo que atinge somente animais.
Gustavo Bispo dos Santos, veterinário ortopedista e clínico geral, afirmou receber telefonemas de clientes, desde o início da pandemia, questionando se podem ser infectados pelo coronavírus dos pets, pois na carteira de vacinação dos bichos consta a dose que os imuniza contra esse tipo de vírus.
— O coronavírus é uma família de vírus, com um subgrupo para animais e outro para humanos, algumas pessoas não entendem isso — afirmou o profissional, que mantém uma clínica no Tatuapé (zona leste da capital paulista).
Santos afirmou que uma cliente chegou a pedir para ser vacinada com a dose dada ao seu pet para evitar a contaminação pelo coronavírus.
— A desinformação criou um caos. Recebi denúncias, por telefone, sobre pessoas que estão abandonando seus cães e gatos para não serem infectadas — disse.
O veterinário acrescentou que, até o momento, não há nenhuma prova clínica ou científica de que o coronavírus dos bichos contamine pessoas. De acordo com o CRMV, a covid-19 não é transmitida pelo mesmo vírus que atinge cães e gatos. O gênero que acomete os pets é chamado de Alphacoronavírus e o que adoece humanos é o Betacoronavírus, com características completamente diferentes.
— As pessoas não passarão o vírus para os seus animais nem o contrário poderá acontecer — afirma o veterinário Eduardo Pacheco, da Comissão Técnica de Clínicos de Pequenos Animais do CRMV.
Quando infectados pelo coronavírus, segundo o CRMV, cães desenvolvem a alfacoronavirose, comprometendo a parte gastrointestinal do animal. Já os gatos, ainda de acordo com a entidade, podem desenvolver a peritonite infecciosa felina, acarretando em um processo inflamatório que debilita o sistema imunológico do felino. Em ambos os casos, os animais podem morrer.
O médico infectologista Paulo Ozon, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), afirmou que a covid-19 pode ter uma sobrevida na pelagem de cães e gatos, da mesma forma que em superfícies de metal, madeira, entre outros. No entanto, faltam estudos para determinar o tempo em que o coronavírus pode permanecer sobre os pelos dos pets.
— A covid-19 pode sobreviver por um período relativamente pequeno (no pelo dos animais), considerando que o Brasil, por conta do clima mais quente, não é ideal para o vírus, que vive melhor em regiões mas frias — explicou.
Ele reforçou que hábitos de higiene são o principal fator para se prevenir de uma eventual contaminação pela covid-19, incluindo após entrar em contato com animais de estimação.