Equipados e totalmente reformados, dois andares do Hospital Vila Nova serão entregues à população de Porto Alegre, na tarde desta terça-feira (28), para se somarem aos leitos de combate ao coronavírus na Capital. A reforma do espaço durou 28 dias, prazo considerado "recorde" pela prefeitura, responsável pelo aporte de R$ 3,5 milhões que tornou a inauguração possível. O prédio foi erguido há mais de 40 anos e tinha o sexto e sétimo pisos desocupados, sem qualquer serventia, de acordo com o presidente da Associação Hospitalar Vila Nova (AHVN), Dirceu Dal'Molin.
— Isso aqui não é um hospital de campanha. Isso aqui é um hospital de ponta. Nós estamos ampliando esse hospital de ponta que vai deixar depois que passar essa pandemia um legado para a cidade de ampliação de atendimento SUS – destacou Nelson Marchezan.
O presidente da Associação Hospitalar Vila Nova, Dirceu Beltrame Dal’Molin, lembra que a obra foi feita em 28 dias.
— Nós tínhamos um edifício de sete andares e faltavam os últimos dois para serem concluídos. Com isso, cada andar passa a contar com 33 leitos – explica Dal’Molin ao adiantar que a Prefeitura pediu à instituição que também sirva de apoio aos hospitais de Clínicas e Conceição, que são os dois de referência na capital para tratamento da covid-19.
— Imaginamos isso desde 1994, mas com inúmeras crises pelas quais passamos, não foi possível. Hoje, para mim, é um sonho se transformando em realidade — afirma o presidente.
As duas alas são idênticas, com 66 leitos clínicos no total. Camas e mobiliários novos, pias e borrifadores de álcool gel — tudo com um trabalho intenso das equipes de limpeza.
— Me sinto muito bem em poder contribuir — afirma Cristiane Gasparini, 44 anos, enquanto higieniza todos os cantos dos novos quartos de internação.
Ao lado das macas, o espaço está pronto para receber as bolsas de oxigênio. Na prática, segundo Dal'Molin, o que difere um leito clínico de um leito de UTI são a presença de um respirador e um monitor, além da equipe médica presente no tratamento intensivo. O Vila Nova tinha, na manhã desta terça, quatro pacientes internados com covid-19. Caso o quadro se agrave, eles serão levados a UTIs referência na Capital.
Ao ser questionado sobre o local onde a placa de inauguração das novas alas será descerrada, o presidente revela um desejo não realizado.
— Eu queria que estivesse escrito: "Esta obra foi feita com muitas mãos e muitos corações", mas não deu tempo de incluir — afirma, sobre uma pequena frustração do que gostaria de ver gravado na parede do hospital.
Para operar a área inaugurada nesta terça atuarão seis médicos, oito enfermeiros e 52 técnicos de enfermagem, além de profissionais de nutrição, terceirizados da área da limpeza, entre outros.
O Hospital Vila Nova recebe, diariamente, em torno de 30 pacientes oriundos de unidades de pronto atendimento periféricas na cidade. Filantrópica, a instituição atende 100% pelo SUS nos 426 leitos atualmente em uso. Destes, 45 já são previstos para pacientes que testarem positivo para a covid-19. Quatro pessoas com a enfermidade estavam internadas no andar, isolado e com acesso restrito, nesta manhã. A transferência para o novo espaço é avaliada e, caso ocorra, deve ser realizada até o final da semana.
Funcionário mais antigo do hospital : "Vi tanta coisa ruim, agora só quero coisa boa"
Com um molho de chaves pendurado em um cordão, Heldebrando Flores — o Seu Flores —, 78 anos, percorre uma das novas alas. Verifica um espaço ainda sem acabamento e elogia reiteradamente as novidades.
— Está muito bonito — afirma, em voz baixa, como se estivesse falando consigo próprio.
Funcionário mais antigo do Vila Nova — são 46 anos de dedicação —, o atual vice-presidente relembra das inúmeras crises enfrentadas pelo hospital.
— A gente lutava, o hospital fechava, a gente reabria. Vi tanta coisa ruim, agora só quero coisa boa — deseja.
Terreno do hospital tem nova obra em andamento
Em frente ao prédio atualmente em uso, tapumes separam outra área do terreno. Ainda na fase de escavação para as fundações, mais uma construção foi iniciada, há duas semanas. Com previsão de ser finalizado em três meses, o edifício irá, em um primeiro momento, abrigar a nova emergência do Vila Nova, além de contar com uma UTI de alto padrão para atender até 20 pacientes.
O presidente da associação afirma que a verba destinada para a construção é de R$ 6 milhões — metade do governo do Estado e metade obtida através de emendas parlamentares dos deputados federais gaúchos.
Após a inauguração, uma ampliação é prevista, triplicando a capacidade de atendimento.