O governo do Maranhão teve de montar uma estratégia quase de guerra para receber 107 respiradores e 200 mil máscaras da China, envolvendo 30 pessoas e R$ 6 milhões. A logística foi criada após os equipamentos que estariam reservados ao Estado serem alvo de negociação da Alemanha e dos Estados Unidos (EUA).
O governo federal também entrou no caminho da gestão de Flávio Dino (PCdoB): utilizando prerrogativa da legislação, bloqueou a transação de um lote de respiradores que havia sido comprado de uma fábrica em Santa Catarina e distribuiu o equipamento segundo seus critérios. Em entrevista ao Timeline, Flávio Dino explicou como se deu o esquema para receber os equipamentos.
— À vista das experiências anteriores, sugerimos e dialogamos com empresas e acabamos chegando à esse formato, em que uma rota por intermédio de um país da África, no caso a Etiópia, garantiu que chegasse até Guarulhos sem nenhum sobressalto. Em seguida, nós fizemos o fretamento de um avião também de Guarulhos direto para São Luis e, com isso, nós conseguimos que hoje esses respiradores já estejam, efetivamente, ajudando as pessoas — disse.
O governador disse não crer, contudo, que a ação do governo de Jair Bolsonaro tenha sido dirigida politicamente, e afirmou que a situação tem ocorrido com diversos entes do Brasil.
— No caso do poder público fazer requisições, há a posterior indenização. Mas é evidente que, a essa alturas, nós não queremos o dinheiro, nós queremos os respiradores — disse — Isso está acontecendo todos os dias. Não é algo específico do Maranhão. De modo geral, os Estados do Norte e do Nordeste têm tido essa dificuldade na busca de caminhos, fretamento de aviões, rotas, para garantir que não haja essa frustração. Eu tenho relatos de governadores que estão com seu sistema de saúde já abarrotado, quase que entrando em colapso e simplesmente há meses não conseguem receber mercadorias pelas quais houve o pagamento — acrescentou.
— O que evidencio dessa história é que temos um problema gravíssimo que é o desabastecimento do mercado nacional porque não houve uma preparação do nosso parque industrial para a crise sanitária. Isso faz com que nós tenhamos hoje uma dependência quase que total de insumos trazidos de outros mercados e hoje é um grave problema, porque envolve aspectos desde a lei da oferta e da procura até a questão logística. Lamentavelmente, o governo federal não tem exercido esse papel que poderia, e deveria exercer para facilitar essas compras dos Estados em favor da população — defendeu.