Desde que o isolamento social foi adotado para tentar frear o avanço do coronavírus, a prática de atividade física ao ar livre divide opiniões. Sair para fazer exercícios não está proibido, mas as autoridades ainda recomendam que se fique em casa, isso para evitar a exposição a possíveis locais ou pessoas contaminadas.
Recentemente, pesquisadores da Bélgica e da Holanda divulgaram um estudo que sugere uma distância de até 20 metros entre os praticantes de atividade física, dependendo do tipo de exercício e da velocidade do movimento. Embora ainda não tenha sido publicado em meio científico, o trabalho foi divulgado pela Universidade Católica de Leuven, na Bélgica, e pela Universidade de Tecnologia de Eindhoven, na Holanda, responsáveis pela pesquisa.
Os professores usaram uma simulação computadorizada para concluir quais seriam as distâncias mais eficazes entre os esportistas para combater a propagação do coronavírus. O trabalho mostra que dois metros recomendados pelas autoridades pode ser pouco. Isso porque, segundo a pesquisa, o corpo em movimento faz com que gotículas emitidas se movam para trás, criando uma espécie de "corrente de ar" que pode contaminar quem vem atrás.
A simulação apontou risco para caminhadas com distâncias inferiores a quatro ou cinco metros. Já os corredores deveriam ficar 10 metros longe uns dos outros, enquanto que, para pedaladas, o ideal seria manter pelo menos 20 metros de distância. Os dados fazem referência a pessoas praticando exercícios uma na frente da outra.
— Esse estudo ainda não foi publicado. Ele pode nem ser publicado. Mas se ele hipoteticamente estiver certo, deverá aumentar a distância entre as pessoas. Não só a distância, mas também a posição — pondera Paulo Ernesto Gewehr Filho, médico do Serviço de Infectologia do Hospital Moinhos de Vento.
O especialista ressalta que a atividade física faz bem para a saúde física e mental das pessoas, mas o risco de aglomeração a torna questionável no atual cenário. Segundo ele, na prática, o distanciamento entre os esportistas acaba não ocorrendo:
— Entende-se que o caminhar sozinho, com distanciamento, não tem maiores riscos. Mas frequentar o lugar onde a gente vai caminhar apresenta riscos. Porque vamos entrar em contato com outras superfícies que podem estar contaminadas. Outra coisa é que se todas as pessoas tiverem a mesma ideia, essa prática não consegue ser mantida.
Luciano Goldani, infectologista do Hospital de Clínicas de Porto Alegre e professor da UFRGS, afirma que o exercício físico faz com que a emissão de gotículas seja maior. No entanto, ele acredita que a aplicabilidade de um estudo ainda não publicado deixa a desejar no contexto de recomendações. Ele ressalta que, enquanto os dados do artigo não forem validados, os praticantes devem manter pelo menos dois metros de distância uns dos outros.
— De acordo com as normativas do Ministério da Saúde, não estamos em lockdown. Não está proibido fazer exercício ao ar livre, desde que se mantenha o distanciamento social — salienta Goldani.