Diretor do Laboratório de Imunologia do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), Jorge Kalil foi entrevistado pelo programa Timeline, da Rádio Gaúcha, nesta terça-feira (17), e afirmou que uma vacina contra o coronavírus só deve chegar no ano que vem.
— As fases (testes) são muito longas. Acreditamos que a fase experimental em animais comece nos próximos dois meses, se tudo der certo. Se conseguirmos passar pelas etapas pré-clínicas, talvez, iniciaremos no começo do ano que vem os demais testes em humanos. Não esperem por isso neste ano — explica o médico, coordenador de uma pesquisa que pretende criar uma vacina contra o vírus.
Na segunda-feira (16), os Estados Unidos informou que um paciente recebeu a primeira dose de uma vacina experimental contra a covid-19. Além dele, outros indivíduos jovens e saudáveis estão participando do teste.
Diferentemente da pesquisa norte-americana, que utiliza o RNA mensageiro para estimular a criação de anticorpos, o estudo brasileiro concentra-se na sintetização de uma partícula oca do vírus – que não possui a informação genética – para realizar o mesmo processo.
De acordo com Kalil, vírus podem aparecer de forma agressiva – como em uma epidemia –, sumir, mas retornar. Atualmente, por ter um caso confirmado na família, o médico está isolado em casa.
– Passamos por diversos processos e testes clínicos. Se não fizermos isso, temos a possibilidade de fazer mais mal do que bem a população. Todas as evidências tem que estar do nosso lado — ressaltou.
Em outra parte da conversa, o médico reforçou o incentivo à pesquisa no país. Segundo ele, o Brasil não é uma "prioridade" no cenário internacional.
— Estive em Harvard (EUA). Apenas 10% dos pesquisadores são americanos. Nós temos que aprender a não perder os nossos "cérebros". Muitos são brilhantes. Se um cientista recebe proposta do Exterior, ele vai — lamentou.
Kalil ainda se posicionou sobre a atuação do governo federal frente à epidemia. Ele criticou o episódio de o presidente Jair Bolsonaro em frequentar uma manifestação no domingo (15).
— Os homens públicos têm que dar o exemplo. Estamos em guerra. Temos que agir de acordo — enfatizou.