Nas últimas semanas, todos os Estados brasileiros adotaram medidas restritivas de distanciamento social com o objetivo de frear a transmissão do coronavírus. Entre as ações de maior abrangência nacional está a suspensão de aulas em escolas públicas, o fechamento de cinemas e shoppings. No entanto, após o pronunciamento em que o presidente Jair Bolsonaro defendeu a retomada da normalidade no Brasil, o país se dividiu entre governadores que apoiam a ideia de isolamento vertical, aplicado somente aos idosos, e os líderes que seguem defendendo restrições rigorosas.
Entre os Estados que flexibilizam as medidas estão aqueles governados pelo PSL, ex-partido de Bolsonaro. Em Rondônia, o governador Marcos Rocha (PSL) anunciou em uma live na sua página do Facebook, na noite de quarta-feira (25), que liberava parcialmente o funcionamento do comércio, indústrias e hotéis, entre outros.
— Segmentos do setor produtivo não podem parar. Para isso, incluímos alguns itens em um novo decreto que apenas acrescenta novas medidas que estão sendo adotadas — disse Rocha.
Antonio Denarium (PSL), de Roraima, anunciou que o transporte intermunicipal voltaria a funcionar a partir de 1º de abril com limite de viagens diárias e de capacidade de passageiros e todo o comércio estaria autorizado a funcionar na modalidade drive-thru e delivery. As aulas da rede estadual serão retomadas, mas à distância.
"Liberei nesta sexta-feira, 27, um novo decreto flexibilizando em todo o Estado, o funcionamento do comércio, na modalidade drive-thru e delivery. Os estabelecimentos deverão cumprir as normas de segurança, prevenção e combate ao coronavírus recomendadas pelo Ministério da Saúde", escreveu o governador em seu perfil no Facebook.
O governo de Santa Catarina havia anunciado um plano de retomada das atividades econômicas e serviços a partir de quarta-feira (1º) — reabertura de academias, shoppings, bares e restaurantes. A decisão gerou respostas nas redes sociais, com a #SCNaoQuerMorrer chegando aos trending topics do Twitter na sexta-feira (27) e no domingo (29). O governador Carlos Moisés (PSL) voltou atrás. Sinalizou que vai prorrogar as medidas de isolamento social até que o sistema de saúde esteja preparado para a expansão do novo coronavírus no Estado. Não foi divulgada uma nova data para a retomada dos serviços.
Em Mato Grosso, um decreto divulgado pelo governador Mauro Mendes (DEM) na quinta-feira (26) levantou as restrições do comércio e do transporte coletivo. O isolamento será mantido para idosos e pessoas em grupos de risco. As aulas continuam suspensas até 5 de abril.
O Ministério Público Estadual pediu suspensão do decreto, e, em nota, Mendes rebateu que não houve "relaxamento" nas medidas de isolamento.
Entre os Estados que mantiveram restrições rigorosas estão os principais focos da doença no país, Rio de Janeiro e São Paulo. Nesta segunda-feira, o governador do Rio, Wilson Witzel (PSC), publicou um novo decreto mantendo todas as restrições até 13 de abril. Seguem proibidos eventos com aglomerações e a frequência a praias. Também continuam proibidas de funcionar atrações turísticas como Pão de Açúcar, Corcovado, museus, teatros e afins, centros comerciais e academias de ginástica, entre outros serviços não essenciais.
Em São Paulo, um decreto do governo estadual estabeleceu quarentena de 24 de março até 7 de abril para todos os municípios. Estabelecimentos comerciais e de serviços, como shoppings, lojas, parques, cinemas e academias fecharam e supermercados, bares, restaurantes, padarias abrem somente para compras, sem consumo no local. Serviços essenciais permanecem em pleno funcionamento.
O governador João Doria (PSDB) divulgou nesta segunda-feira um estudo do Instituto Butantan em parceria com o Centro de Contingência do Coronavírus de São Paulo e a UnB (Universidade de Brasília) afirmando que sem a quarentena seriam necessários mais 20 mil leitos na Capital. A taxa de contágio era de uma pessoa para três em 20 de março e caiu de uma para duas pessoas em 25 de março.
– É uma explicação científica e fundamentada para mostrar a importância das medidas restritivas que foram adotadas em São Paulo. Peço mais uma vez às pessoas que fiquem em casa e preservem suas vidas. Nós teremos a oportunidade de recuperar a economia do Estado de São Paulo, o mais pujante do país. Mas, neste momento, a nossa prioridade é proteger vidas – disse Doria em entrevista coletiva.
Exemplo italiano
A divergência entre Estados brasileiros ecoa o processo vivido pela Itália há um mês. Em 27 de fevereiro, o país registrava 650 contágios e 17 mortes por coronavírus. Para neutralizar o impacto econômico das medidas de isolamento social, o governo decidiu afrouxar as medidas.
A campanha "Milão não para" recebeu o apoio de autoridades apesar de a região da Lombardia, onde está situada, ser a mais atingida pela covid-19 (registrava 12 mortos). Porém, diante da explosão no número de casos, o prefeito Giuseppe Sala pediu desculpas por apoiar a campanha. A quarentena nacional foi decretada em 9 de março, quando o país registrava 463 por coronavírus. Atualmente a Itália tem mais de 10 mil mortes e está totalmente parada.