Se o coronavírus crescer a um ritmo italiano, o Rio Grande do Sul terá mais de 4 mil casos nos próximos 20 dias, aponta análise divulgada nesta terça-feira (17) pela Secretaria Estadual de Planejamento, Orçamento e Gestão (Seplag). O estudo prevê como seria a epidemia no Brasil e no Estado se a doença seguir o mesmo comportamento de outras nações.
O levantamento prevê o avanço do coronavírus caso ele tenha velocidade “extrema” (ao ritmo de Itália, Irã e Coreia do Sul), “agressiva” (França, Espanha e Alemanha) ou “moderada” (Japão).
Se o coronavírus no Rio Grande do Sul avançar a ritmo italiano, teríamos, em 7 de abril, daqui a 20 dias, mais de 4,3 mil casos. No cenário francês, seriam 3,5 mil casos e, na velocidade japonesa, 245.
A previsão não leva em conta as medidas de saúde pública tomadas pelo Estado ou pela prefeitura de Porto Alegre, como cancelamento de eventos e de aulas ou fechamento de bares. Também não são incorporadas variáveis como o clima quente do Brasil, a umidade local e comportamentos regionais.
— A gente se baseia no que acontece em outros países, porque no Brasil e no Rio Grande do Sul ainda há poucos casos. Estes números são uma estimativa de como seria 15 dias após o 50º caso, e não como será com o máximo de infectados — comenta Vanessa Sulzbach, doutora em Economia e uma das autoras do estudo.— Em Hubei, o lockdown (quarentena) começou a surtir efeito no número de infecções cerca de uma semana depois. Teremos que ter paciência, os resultados podem demorar um pouco — acrescenta.
Em outras palavras, o comportamento do coronavírus dependerá da capacidade de “achatarmos a curva” – isto é, aderir às medidas de isolamento e de higiene social para reduzir a velocidade de alcance da epidemia.
— Este cenário é sem intervenção do governo. Os efeitos das intervenções de agora são para daqui a duas ou três semanas. A China fez um projeto muito agressivo de restrição de mobilidade e funcionou — ressalta Silvio Ferreira, professor do Departamento de Física da Universidade Federal de Viçosa (UFV) e especialista no comportamento de epidemias.
Cerca de 3% das pessoas com coronavírus morrem, mas a taxa de letalidade sobe para pessoas mais velhas ou com doenças crônicas, como diabetes e pressão alta. Pesam contra o Rio Grande do Sul o inverno rigoroso e a alta população de idosos (20% de todos os gaúchos, segundo o DEE).
O estudo aponta também que, no Brasil, o coronavírus parece crescer em ritmo semelhante ao da Itália ou da França. O país levou 14 dias para chegar ao 50º caso e o Estado de São Paulo, 16 dias. O Rio Grande do Sul, sete dias após o primeiro caso, tem 11 infectados.
O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, afirmou nesta terça-feira que o país enfrentará um período de estresse nos próximos 60 a 90 dias e um pico de casos até junho.
— Ao me antecipar a qualquer um dos três cenários, terei mais eficácia do que se esperar um cenário mais severo para tomar medidas. Talvez o Brasil esteja se direcionando para um lado mais severo. Mas, em Porto Alegre, as medidas anunciadas pelo prefeito ocorrem em cenário anterior ao de São Paulo ou do Rio. Isso pode nos favorecer para tomar um rumo menos agressivo da doença — pontua Alexandre Zavascki, chefe da Infectologia do Hospital Moinhos de Vento e professor de Infectologia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Demanda de leitos
O estudo ainda analisa os impactos do coronavírus no sistema de saúde. A grande preocupação de autoridades é a sobrecarga na exigência de atendimento da população. Estatisticamente, 15% dos doentes vão para internação hospitalar e 5% para a Unidade de Tratamento Intensivo (UTI).
Com uma epidemia de velocidade italiana, haveria, daqui a 20 dias, uma nova demanda de 3,3% do total de leitos clínicos públicos e privados do Rio Grande do Sul, se somadas as camas cirúrgicas que podem ser usadas em situação de emergência, algo já em vista pela Secretaria Estadual da Saúde (SES).
No entanto, o cenário é preocupante ao olhar para os leitos de UTI daqui a 20 dias: em uma epidemia "extrema", haveria um crescimento de 12% na demanda de leitos de terapia intensiva, sendo que hoje a lotação já é quase total, segundo informações da SES.
O governo estadual deve expandir a oferta de leitos e o Ministério da Saúde anunciou 30 novos leitos de UTI apenas para tratar coronavírus. Ainda assim, a pressão sobre o sistema de saúde é preocupante, observa Alexandre Zavascki, chefe da Infectologia do Hospital Moinhos de Vento e professor de Infectologia na UFRGS.
— A gente sabe que há outros pacientes que precisam de UTI. Claro que existem sempre alternativas de retaguarda, como o cancelamento de cirurgias eletivas cujo pós-operatório demande UTI. Mas (essa demanda) é, sim, preocupante — observa.
A Secretaria Estadual da Saúde (SES/RS) afirmou que o estudo deveria ser comentado pela Seplag.