O coronavírus está circulando pelo norte da Itália, onde mais de 100 casos estão confirmados — até as 15h deste domingo (23) — e três mortes foram registradas. Outras centenas de pessoas estão em quarentena obrigatória, à espera de resultados de exames, e milhares estão em confinamento domiciliar determinado pelas autoridades sanitárias.
As vítimas são um homem de 78 anos, no Vêneto, uma mulher de 77 anos, na Lombardia, e uma outra mulher ainda não identificada, em Creta. As mortes ocorreram, respectivamente, na sexta-feira (21), sábado (22) e domingo (23). São os primeiros óbitos na Europa de pessoas contaminadas internamente. Antes, na França, um turista chinês havia morrido.
A confirmação de que o vírus circula pelo norte da Itália ocorreu na noite de quinta-feira (20), a partir de um caso em Codogno — a 60 km de Milão. Um homem de 38 anos apresentava, nos dias anteriores, um quadro agravante de gripe, mas, como não tinha viajado, não havia sido testado para coronavírus.
Sua mulher, no entanto, se lembrou de que o marido havia encontrado, no início deste mês, um amigo italiano recém-chegado de Xangai, na China. Feito o teste, o resultado foi positivo: o homem de 38 anos é considerado o paciente número um.
A partir dele, foram contaminadas dezenas de pessoas, incluindo a própria mulher, grávida de oito meses, um amigo, médicos, enfermeiros e outros pacientes do hospital de Codogno. Sua situação é considerada grave, mas estável. A mulher grávida está internada, mas em boas condições. Já o italiano que chegou da China, chamado de "paciente zero", não testou positivo para o vírus, mas continua sendo submetido a exames.
A cidade de Codogno e seu entorno, conhecido como Baixo Lodigiano, são considerados o epicentro da contaminação.
— Podemos confirmar que essa área é hoje um centro de infecção. Podemos dizer isso de maneira clara porque todas as situações positivas que estamos encontrando tiveram contato nos dias anteriores com o hospital de Codogno — afirmou em entrevista à imprensa neste sábado Giulio Gallera, secretário de Bem-estar da Lombardia.
A mulher de 77 anos que morreu neste sábado é um desses casos. Ela esteve no hospital de Codogno no mesmo dia em que o paciente 1. Após recuperada de uma crise respiratória, foi para casa, onde depois morreu. O exame para coronavírus foi realizado após o óbito. Já o caso do idoso morto no Vêneto está sendo investigado para saber as origens do contágio.
A área de Codogno está em regime de isolamento. O ministro da Saúde e o governador da Lombardia divulgaram na sexta-feira um comunicado pedindo, entre outras medidas, a suspensão obrigatória de atividades em escolas, empresas e comércio sem utilidade pública, além de eventos coletivos como festas, missas e competições esportivas.
A medida afeta também as cidades de Castiglione d'Adda, Casalpusterlengo, Fombio, Maleo, Somaglia, Bertonico, Terranova dei Passerini, Castelgerundo e San Fiorano. São cerca de 50 mil pessoas residentes nesses locais.
Em seguida ao comunicado das autoridades sanitárias, a Trenord, que opera os trens da região da Lombardia, anunciou que as composições não vão parar nas estações dessas cidades, que também estão com as bilheterias fechadas.
As imagens de TV mostram ruas desertas em Codogno, com lojas, bares e restaurantes de portas fechadas e sem a circulação de carros, meios de transportes públicos e pedestres. Algumas farmácias mantiveram o atendimento, mas sem permitir a entrada dos clientes, que chegaram a formar filas nas calçadas. As máscaras cirúrgicas estão esgotadas.
A orientação é que aqueles que tenham sintomas como febre, tosse e dificuldade respiratória ou que possam ter estado em contato com algum contaminado liguem para o sistema de emergência e evitem ao máximo ir para os hospitais.
— As medidas tomadas estão sendo positivas, porque as pessoas permanecem em casa, era o que queríamos. O objetivo é conter o máximo possível a situação. O importante é que as pessoas não circulem para evitar a veiculação do vírus — disse Gallera, que nega haver
O secretário nega que haja uma situação de pandemia.
— Evidente que o cenário italiano mudou. Mas devemos sublinhar que em pouco tempo, em cerca de 37 horas, conseguimos colocar em prática uma ação articulada, pontual, com investigação das pessoas, seus contatos, seus parentes — afirmou.
Antes das contaminações de Codogno, a Itália havia registrado até então três casos de coronavírus: um casal de turistas chineses e um pesquisador italiano, todos provenientes de Wuhan, na China, onde surgiram os primeiros casos da doença. Todos estão em recuperação em Roma.
O país foi um dos primeiros da Europa a suspender, no fim de janeiro, todos os voos com destino e origem à China. O paciente zero, que chegou à Itália vindo de Xangai, teria voado no dia 21 de janeiro, antes, portanto, da medida adotada pelo governo italiano.
No início de fevereiro, o governo trouxe ao país 56 italianos que estavam em Wuhan e que foram colocados em quarentena em Roma. Neste sábado, chegaram outros 19 italianos que viajavam no navio Diamond Princess, que ficou ancorado por dias no Japão com mais de 600 casos confirmados de coronavírus. Eles também vão cumprir quarentena.