Desde que foram divulgadas as primeiras informações sobre o que viria a ser uma epidemia do coronavírus, o argentino Pablo Lassalle, 44 anos, está apreensivo: casado com a chinesa Zhang Hui, 33 anos, que está no país asiático com a filha do casal, Isabela, de um ano e sete meses, ele não sabe quando verá as duas novamente. Zhang tem familiares em Wuhan, epicentro da doença, e tenta voltar para Palhoça, em Santa Catarina, onde mora, na viagem em que virão alguns dos brasileiros que estão na China.
— Ela está bem, não passa por uma situação complicada. Mas está ansiosa para voltar, contando os dias, na verdade. E eu também. Agora as coisas estão em ritmo acelerado, pelo que ela contou: as autoridades brasileiras e chineses já fizeram visitas, alguns testes desde segunda-feira (3), quando realmente veio a ordem (para repatriar os brasileiros em Wuhan). — relata o ilustrador 3D.
Chinesa, Zhang Hui descreveu ao marido que teve dificuldade para receber autorização para voltar na mesma viagem dos brasileiros, que deverão voltar ao país em uma aeronave da Força Aérea Brasileira (FAB). Mas, em e-mail enviado nesta terça-feira (4), a Embaixada do Brasil em Pequim informou que ela e a filha foram incluídas na lista de brasileiros que estarão a bordo do avião que deixará Wuhan.
Em entrevista à Rádio Gaúcha na manhã desta terça, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, confirmou que a base militar de Anápolis (GO) deve receber os brasileiros vindos de Wuhan, na China, epicentro do coronavírus. Segundo Mandetta, ainda não existe a confirmação do local, pois uma base em Florianópolis (SC) também segue nos planos do Ministério da Defesa. No entanto, conforme o ministro, o fato de Anápolis estar mais próxima de hospitais das Forças Armadas deve pesar a favor na decisão.
Para Lassalle, a quarentena em Florianópolis seria benéfica pela proximidade de Palhoça. No entanto, ele afirma que, se o governo definir que o município goiano de Anápolis receberá melhor os brasileiros vindos de Wuhan, isso não será um empecilho.
— Melhor para nós se fosse em Florianópolis, mas isso não é problema: vou até o Chuí, vou a qualquer país para ver minha esposa e filha. Eu queria ir lá na China quando vi a primeira notícia (sobre o coronavírus), mas logo os meios de locomoção lá foram fechados, então não teria como — reforça o argentino.
A decisão do governo brasileiro de trazer de volta os brasileiros que estão em Wuhan e manifestaram o desejo de retornar ao país foi informada após a divulgação de um vídeo, nas redes sociais, em que homens e mulheres pedem que o presidente Jair Bolsonaro traga-os de volta, a exemplo do que vem sendo feito por outros países.
— A princípio, eles (brasileiros) vão permanecer em quarentena por 14 dias (margem internacional). Mas nós aumentamos para 18 dias como uma margem de segurança — garantiu o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta.
Entre 40 e 45 pessoas devem ser trazidas pelo governo. O Itamaraty teria contabilizado 55 indivíduos com esse desejo – destes, 13 ou 14 disseram que não desejariam voltar para o Brasil, de acordo com Mandetta.
Quanto aos comentários de pessoas que têm defendido, nas redes sociais, que os brasileiros permaneçam em Wuhan, muitos afirmando que essas pessoas "foram lá porque quiseram" e deveriam "voltar com as próprias pernas", Lassalle diz que esse tipo de atitude gera um grande mal-estar para ele, a família e todos os que estão lá ou esperam o retorno de seus entes queridos ao Brasil.
— Não encontro nenhuma justificativa para isso. Só pode ser ignorância, falta de conhecimento — descreve.
* Colaborou Larissa Roso.
Esclareça suas dúvidas sobre o coronavírus
O que é?
O coronavírus é uma família de vírus que causa síndromes respiratórias, como resfriado e pneumonia. Versões mais graves do coronavírus causam doenças piores, como a temida Síndrome Respiratória Aguda Grave (Sars, sigla em inglês), responsável pela morte de mais de 600 pessoas na China e em Hong Kong entre 2002 e 2003. A versão de vírus que circula agora é uma espécie nova, desconhecida da comunidade médica, e o medo é de uma pandemia global.
Quais os sintomas?
Dentre os possíveis sintomas estão febre, dor, dificuldade para respirar, tosse, diarreia e pneumonia.
Onde surgiu?
Na cidade de Wuhan, na província de Hubei, na China. A metrópole de 11 milhões de habitantes está isolada. Trens e voos foram interrompidos e detectores de febre foram instalados nas estações de embarque e no aeroporto. Nas estradas, a temperatura corporal é medida pelos postos de controle e, para sair da cidade, o transporte não pode ser feito de carro. Para evitar qualquer concentração de pessoas, as autoridades anularam as comemorações do Ano-Novo Lunar chinês na cidade. As autoridades também proibiram qualquer espetáculo e fecharam um museu.
Como surgiu?
O Centro para Vigilância e Prevenção de Doenças (CDC), equivalente dos Estados Unidos à Anvisa, identifica um grande mercado atacadista de peixes e frutos do mar na cidade de Wuhan como a origem das infecções.
Como ele é transmitido?
De animal para pessoa e de pessoa para pessoa. Segundo o governo chinês, o vírus pode se modificar e ser transmitido mais facilmente. Conforme o CDC, pessoas mais velhas parecem ter maior risco.
Como é o tratamento?
Não há tratamento contra o coronavírus em si, apenas contra os sintomas. Pacientes tomam remédio para baixar a febre e podem receber máscara de oxigênio para respirar melhor, por exemplo.
Quais os cuidados?
Lavar as mãos (sobretudo quem passar por aeroportos), evitar contato dos dedos com mucosas do nariz, olhos e boca. É recomendável usar álcool em gel.
A vacina contra a gripe protege?
Não. Segundo Alexandre Zavascki, chefe da Infectologia do Hospital Moinhos de Vento e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o vírus da gripe não é o coronavírus, e sim o influenza. Portanto, a vacina regular tomada antes do inverno não protege.
Por que o nome coronavírus?
O nome vem do latim corona, que significa coroa. Visto de um microscópio, o coronavírus parece uma coroa ou auréola.